sábado, 20 de diciembre de 2008

O papel das tropas locais e dos “casados” no seio da organização militar portuguesa no Oriente (séc. XVI)


LIBRO:Glossário luso-asiático Escrito por Sebastião Rodolfo Dalgado, Joseph M. Piel
http://books.google.com/books?id=c8_98MK7C28C&pg=PA161&lpg=PA161&dq=panicais&source=bl&ots=hfDzRMcNJ2&sig=hWLSVEjyj5WDld1tNtkDc1XgA3c&hl=es&sa=X&oi=book_result&resnum=3&ct=result#PPA161,M1
VER CITA: http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/01/naique-e-panicai.html

ARTICULO:O papel das tropas locais e dos “casados” no seio da organização militar portuguesa no Oriente (séc. XVI)
Por : Vitor Luís Gaspar Rodrig

O papel das tropas locais e dos “casados” no seio da organização militar portuguesa no Oriente (séc. XVI) Por : Vitor Luís Gaspar RodrigTratando-se de um assunto ainda hoje mal conhecido do grande público – o da acção desenvolvida pelas tropas locais e pelos “casados” no seio da organização militar portuguesa no Oriente – poderá, de alguma forma, contribuir para um melhor conhecimento das interacções étnicas e culturais no mundo luso-asiático.A utilização de tropas locais pelos portugueses remonta aos primórdios do seu estabelecimento no sub-continente indiano. Com efeito, o apoio prestado pelos naires do rei de Cochim às forças de Duarte Pacheco Pereira, em 1504, se por um lado resultou da conjugação de esforços de dois poderes soberanos que almejavam alcançar um objectivo comum - a destruição do poderio económico e político-militar do Samorim de Calicute -, por outro marcou o momento a partir do qual pela primeira vez essas tropas foram enquadradas sob a chefia unificada de um capitão português.A importância das tropas locais é atestada, ainda, pelos grandes contingentes que anualmente embarcavam nas armadas portuguesas destinadas a vigiar e controlar as rotas comerciais do Índico ou organizadas com a finalidade de proceder à conquista de novas praças, estando presentes em elevado número nas principais refregas militares da governação de Afonso de Albuquerque - conquista de Goa, Malaca, Ormuz e no ataque a Adém.Às tropas gentias coube, desde o início, a defesa de Goa, tendo os seus passos sido providos com “peões da terra”, capitaneados por portugueses[2]. Com o correr dos anos, o aumento do número de passos fortificados e a conquista das terras firmes de Salsete e Bardez foram provocando um crescimento do número de efectivos e bem assim dos seus capitães, ao mesmo tempo que as estruturas defensivas se complexificaram, surgindo corpos de espingardeiros da terra e peões para vigiar e correr o campo[3].
Noutros locais, como em Baçaim e Damão, a sua acção foi igualmente decisiva na defesa das suas fortalezas e tranqueiras, tendo sido criados corpos especiais de “frecheiros”, lanceiros e adargueiros que, com o apoio de peões da terra e de Goa[4] comandados pelos seus naiques[5], (VER NOTA)
Por outro lado, a presença destes contingentes no seio da estrutura militar portuguesa acarretou-lhe, também, alguns problemas sérios de segurança, sobretudo quando o Estado da Índia se defrontava com os seus crónicos períodos de falta de liquidez financeira e, por isso, se atrasavam os pagamentos dos soldos e mantimento às tropas. Nesses casos chegavam mesmo a eclodir rebeliões, como a célebre rebelião dos lascarins[9]
Diferentes concepções técnico-tácticas relativamente à "arte da guerra" e todo um conjunto de preconceitos relativamente às aptidões militares dessas tropas - a quem apelidavam de “negrinhos nús” -, agravados pela necessidade de partilhar uma função que entendiam exclusiva, estiveram na base dessa animosidade.Elemento igualmente decisivo para a afirmação do “Estado da Índia” eram os escravos, utilizados aí nas mais diversas tarefas: nas obras de construção de fortalezas e tranqueiras; como remeiros das galés; no trabalho das ribeiras e nas tripulações dos navios ou, simplesmente, nas tarefas domésticas. Para além disso, e a exemplo do que era usual no Oriente, integraram também, desde muito cedo, as estruturas militares portuguesas combatendo ao lado dos demais homens de armas e apoiando os seus senhores durante as refregas[10].

NOTA[5]Naique era o termo utilizado pelos portugueses para designar o capitão ou chefe dos soldados nativos de infantaria, podendo aparecer por vezes com o sentido de cabo ou capitão em geral. Não confundir com naire, designativo de um indivíduo pertencente a uma casta nobre e militar do Malabar, nome oriundo do malayala nãyar, derivado do sânscrito nãyaka, "chefe, director, guia, condutor". Cf. Sebastião Rudolfo Dalgado, Glossário Luso-Asiático, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1919-21. Integrados também, por vezes, na estrutura militar portuguesa do Oriente encontramos os panicais (que pertenciam à casta naire), mestres de esgrima e ginástica militar e de instrução primária, que eram originários do Malabar.
NOTA 9]Soldado indígena da Índia. Do persa lashkari, derivado de lashkar, "exército". Os cronistas portugueses fazem a distinção entre lascarim e lascar, entendendo pelo primeiro "soldado da terra", e pelo segundo "o soldado do mar ou marinheiro". O motivo é que os naturais empregavam a palavra lashkar com o nome colectivo para designar "a tripulação inteira". Cf. Sebastião Rodolfo Dalgado, Glossário Luso-Asiático, já cit..
http://www2.iict.pt/index.php?idc=102&idi=12798
otras citas:http://purl.pt/12121/3/var-2326/var-2326_item2/var-2326_PDF/var-2326_PDF_01-B-R0300/var-2326_0002_16-30_t01-B-R0300.pdf

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