lunes, 1 de diciembre de 2008

II- "O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D. João VI




ALBUQUERQUE, Maria João. "O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D. João VI. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume III, n. 4, outubro de 2008. Disponível em: http://www.dezenovevinte.net/19e20/




O Imperador francês julgou poder manter isolada a Grã-Bretanha, “querendo conquistar o mar pelo poder na terra”, mas em finais de 1807(19 enero1808 salen para Brasil http://saladepesquisacapoeira.blogspot.com/2009/03/don-pedro-i-y-el-berimbau-de-una-sola.html ), a família real é transportada em navios sobre escolta inglesa para o Brasil. Partindo para o Brasil e separado da pressão continental europeia, o rei D. João VI procurou manter as suas linhas de governação e orientação relativamente às preferências diplomáticas seguidas antes do pacto de neutralidade, opções que se relacionavam com as dificuldades em que se encontravam as outras potências europeias, nomeadamente durante o período de ocupação de Portugal pelas tropas napoleónicas, entre 1807 e 1810. Essa partida da Corte portuguesa para o Brasil criou nas cortes européias e países aliados, uma nova expectativa sobre o continente americano e a sobre a importância do Brasil como território autônomo, livre e independente, acontecimento que teve um impacto enorme na vida da sociedade portuguesa no Brasil. Os quarenta navios mercantes transportaram 15.000 pessoas, que levaram consigo muitos objectos de valor que inundaram o mercado que se abriu aos aliados de Portugal. Do Oriente, começaram a chegar mercadorias e objectos orientais à Bahia e ao Rio de Janeiro. Apenas de 1813 a 1814, duas dezenas de navios ingleses tinham levado de Madrasta e Bengala, portos localizados na Índia oriental, muitos objectos orientais principalmente louças para o Rio.
Em meados de 1812-1813, D. Rodrigo Domingos de Sousa Coutinho Barbosa, Ministro das Finanças de D. João VI, permite que os primeiros colonos chineses, vindos via Macau, cerca de 300, se instalem na Fazenda de Santa Cruz, antiga cerca do Convento Jesuíta e adaptado a palácio de Verão da família real para plantarem chá. O avanço dos conhecimentos de Botânica e, sobretudo, o racionalismo do Iluminismo levam a que, nos alvores do romantismo, se procure na natureza o que anteriormente se procurava no interior e fausto dos palácios barrocos. A Fazenda de Santa Cruz transformar-se-ia no jardim botânico da cidade, levando a que mais indivíduos pudessem usufruir do bem-estar que a beleza e harmonia destes espaços exteriores podia proporcionar. Novos jardins e passeios públicos se abriram a uma nova classe social de fazendeiros e grandes proprietários. Para comprovar esta realidade e o poder econômico e político desta sociedade brasileira poderemos mostrar como último exemplo, uma travessa decorada com uma paisagem também tipicamente brasileira [Figura 16]. Do lado esquerdo, está representada “uma plantação de café [...]; o tema central tem um casario português; finalmente, do lado direito, em cima da ponte, há dois cidadãos, com vestimentas chinesas, que seriam do grupo dos 300 plantadores que tinham ido para o Rio plantar inicialmente chá e, depois, café[8]. Esta travessa chinesa do período Daoguang (1821-1850), fez parte do serviço de porcelana encomendado pelo comerciante e comendador do Rio de Janeiro Pedro José Bernardes, 2º Barão, Visconde e Conde de Itamarati.

[8] CASTRO, Nuno. A Porcelana Chinesa ao tempo do Império - Portugal / Brasil. Lusitânia, grupo Montepio, Lisboa, 2007, p. 314
As invasões francesas foram de extrema gravidade para Portugal.
No fim das mesmas, em 1810 (embora o Exército português continuasse a perseguir os franceses até 1814, tendo chegado a Toulouse), estima-se que 10% da população (cerca de 200.000 pessoas) tenha perecido; a grande parte da indústria, vias de comunicação e infra-estruturas diversas, destruídas; a agricultura e o comércio, destruído ou desarticulado.
Tudo isto representa um panorama que hoje dificilmente se consegue imaginar...
Grave ainda, porque a 1ª invasão tinha provocado a saída da família real e cerca de 10 000 pessoas de mais elevado estatuto social, para o Rio de Janeiro (e com ela a maior parte da Marinha), onde passou a funcionar o governo português e para garantir a ajuda britânica, teve que se abrir os portos brasileiros ao comércio inglês e a ter o território continental, a Madeira e a Índia, ocupadas por tropas inglesas, o que só terminou definitivamente com a expulsão de Beresford, em 1820.

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