ALBUQUERQUE, Maria João. "O gosto à oriental" nas artes decorativas na época de D. João VI. In: 19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte. Volume III, n. 4, outubro de 2008. Disponível em: http://www.dezenovevinte.net/19e20/
Lembramos que muitas famílias de grandes armadores portugueses, como é o caso de Fernão Cardim ou a própria descendência de outros nobres, também governadores e vice-reis da Índia, que foram nomeados para cargos de governação ou chefia em território brasileiro, mas mantinham interesses pessoais ou privados em ambos os territórios. Como exemplos poderemos mencionar António Coelho de Albuquerque, capitão-de-mar-e-guerra e capitão de Infantaria em Macau (1708-1716), Capitão-General de Solor e Timor (1722-1725), filho de António de Albuquerque Coelho Carvalho, Governador do Maranhão, ou D. Luís Peregrino de Ataíde, Conselheiro de D. João V e Vice-Rei do Brasil entre 1749 e 1755, que eram grandes coleccionadores de arte e grandes encomendantes de porcelanas chinesas e européias. As companhias das Índias Neerlandesas Ocidentais que iniciaram a sua actividade em 1621, depois de ocuparem Olinda e Pernambuco em 1630, tiveram um papel determinante na difusão da cultura europeia e do gosto vigente no Brasil até à instalação da capital no Rio de Janeiro e à chegada da corte de D. João VI ao Brasil.
Por esta altura a sociedade portuguesa no Brasil regia-se pelos mesmos protocolos de etiqueta e gosto. A rede clientelar que na esfera do público, se pautava pelas linhas programáticas do poder central, na esfera do poder privado, alicerçava-se a laços de parentesco. As invasões e ocupações do território por parte dos holandeses contribuíram para o intercâmbio de obras de arte ou de utensílios do quotidiano que o mercado oficial ou o mercado paralelo ofereciam. Em 1730, “as mercadorias que vinham da China vendiam-se mais vantajosamente no Brasil do que em qualquer outro local”[5], mercado que tenderia sempre a aumentar com a liberalização dos portos.
A 4 de Novembro de 1769, D. Luís de Almeida Soares Portugal era nomeado Governador da Bahia e incumbido da missão de preparar a transferência da capital para o Rio de Janeiro. Durante os nove anos que exerceu o cargo na nova capital a cultura e as artes são uma das suas preocupações. Os teatros, as academias e as novas universidades traduzem a vontade que a nova elite tem em implementar o novo conceito de sociedade guiada por teóricos do Iluminismo Português como era o caso de José Seabra da Silva que, pouco antes da sua transferência para o Rio de Janeiro, publicara Deduções, Analytica e Cronológica. A inauguração da casa dos Vice-Reis no Rio de Janeiro em 1772, permitiu-lhe adequar o novo espaço ao gosto europeu da época. As peças brasonadas como são os jarrões dos Governadores da Índia, às porcelanas chinesas ou peças japonesas dos diferentes períodos, ao mobiliário inglês ou às porcelanas de Sèvres, de Limoges ou Meissen circulavam nos mercados brasileiros em abundância. Em 1793, havia já abertas 12 lojas de porcelanas da China, evidenciando a procura por parte de nobres, proprietários de engenhos e comerciantes. A par do “gosto à oriental”, as porcelanas francesas e o gosto à grega passam a apresentar paisagens e cenas bucólicas e alegorias e cenas da mitologia, como já referimos anteriormente. Durante o mesmo período, Bernardo José Maria de Lorena, capitão geral de Minas Gerais e antigo Vice-Rei da Índia foi nomeado Governador de S. Paulo, também durante nove anos (1786-1797). O covilhete da Figura 15 [6], de grandes dimensões, apresenta as armas da família e evidencia a depuração de gosto desta nobreza cosmopolita que se impunha inter pars pela elegância e fausto das suas recepções.ç
[5] LEITE, José Roberto T.. As Companhias das Índias e a Porcelana Chinesa de encomenda, pp. 154 e 155, CASTRO, Nuno, A Porcelana Chinesa ao tempo do Império - Portugal / Brasil, Lusitânia, grupo Montepio, Lisboa, 2007
[6] CASTRO, Nuno, A Porcelana Chinesa e os Brasões do Império, p. 201
http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_oriental.htm
Lembramos que muitas famílias de grandes armadores portugueses, como é o caso de Fernão Cardim ou a própria descendência de outros nobres, também governadores e vice-reis da Índia, que foram nomeados para cargos de governação ou chefia em território brasileiro, mas mantinham interesses pessoais ou privados em ambos os territórios. Como exemplos poderemos mencionar António Coelho de Albuquerque, capitão-de-mar-e-guerra e capitão de Infantaria em Macau (1708-1716), Capitão-General de Solor e Timor (1722-1725), filho de António de Albuquerque Coelho Carvalho, Governador do Maranhão, ou D. Luís Peregrino de Ataíde, Conselheiro de D. João V e Vice-Rei do Brasil entre 1749 e 1755, que eram grandes coleccionadores de arte e grandes encomendantes de porcelanas chinesas e européias. As companhias das Índias Neerlandesas Ocidentais que iniciaram a sua actividade em 1621, depois de ocuparem Olinda e Pernambuco em 1630, tiveram um papel determinante na difusão da cultura europeia e do gosto vigente no Brasil até à instalação da capital no Rio de Janeiro e à chegada da corte de D. João VI ao Brasil.
Por esta altura a sociedade portuguesa no Brasil regia-se pelos mesmos protocolos de etiqueta e gosto. A rede clientelar que na esfera do público, se pautava pelas linhas programáticas do poder central, na esfera do poder privado, alicerçava-se a laços de parentesco. As invasões e ocupações do território por parte dos holandeses contribuíram para o intercâmbio de obras de arte ou de utensílios do quotidiano que o mercado oficial ou o mercado paralelo ofereciam. Em 1730, “as mercadorias que vinham da China vendiam-se mais vantajosamente no Brasil do que em qualquer outro local”[5], mercado que tenderia sempre a aumentar com a liberalização dos portos.
A 4 de Novembro de 1769, D. Luís de Almeida Soares Portugal era nomeado Governador da Bahia e incumbido da missão de preparar a transferência da capital para o Rio de Janeiro. Durante os nove anos que exerceu o cargo na nova capital a cultura e as artes são uma das suas preocupações. Os teatros, as academias e as novas universidades traduzem a vontade que a nova elite tem em implementar o novo conceito de sociedade guiada por teóricos do Iluminismo Português como era o caso de José Seabra da Silva que, pouco antes da sua transferência para o Rio de Janeiro, publicara Deduções, Analytica e Cronológica. A inauguração da casa dos Vice-Reis no Rio de Janeiro em 1772, permitiu-lhe adequar o novo espaço ao gosto europeu da época. As peças brasonadas como são os jarrões dos Governadores da Índia, às porcelanas chinesas ou peças japonesas dos diferentes períodos, ao mobiliário inglês ou às porcelanas de Sèvres, de Limoges ou Meissen circulavam nos mercados brasileiros em abundância. Em 1793, havia já abertas 12 lojas de porcelanas da China, evidenciando a procura por parte de nobres, proprietários de engenhos e comerciantes. A par do “gosto à oriental”, as porcelanas francesas e o gosto à grega passam a apresentar paisagens e cenas bucólicas e alegorias e cenas da mitologia, como já referimos anteriormente. Durante o mesmo período, Bernardo José Maria de Lorena, capitão geral de Minas Gerais e antigo Vice-Rei da Índia foi nomeado Governador de S. Paulo, também durante nove anos (1786-1797). O covilhete da Figura 15 [6], de grandes dimensões, apresenta as armas da família e evidencia a depuração de gosto desta nobreza cosmopolita que se impunha inter pars pela elegância e fausto das suas recepções.ç
[5] LEITE, José Roberto T.. As Companhias das Índias e a Porcelana Chinesa de encomenda, pp. 154 e 155, CASTRO, Nuno, A Porcelana Chinesa ao tempo do Império - Portugal / Brasil, Lusitânia, grupo Montepio, Lisboa, 2007
[6] CASTRO, Nuno, A Porcelana Chinesa e os Brasões do Império, p. 201
http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_oriental.htm
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