DIBUJO:Jornal"O malho" 1904.http://www.capoeira-infos.org/ressources/textes/t_melo_morais_filho.html
FOTO:Capa de Saragoza,típica dos capoeiras de Rio de Janeiro.
Os desordeiros: do mundo do crime ao mundo da cultura
Rodrigo Janiques Vieira
Monografia apresentada para conclusão do curso de licenciatura em História.
Orientador: Professor Dr. Valeriano Altoé
Capoeiras, capoeiras! gente que com a testa faz n´um instante mais espalhafato que meia dúzia de Godans ébrios a jogarem o soco; gente que com a faquinha n´uma mão e o copo na outra afronta o mais intrépido valentão, mete às vezes uma patrulha no chinelo, fazendo-a amolar as gâmbias com a maior frescura do mundo; gente gárrula, provocadora, que só guarda as esquinas ou as praças do mercado, rebuçada às vezes em uma velha capa, trazendo o seu cacetinho por disfarce. Eis os capoeiras!
O CORREIO DA TARDE, Rio de Janeiro, 3/11/1849
2 AS RAÍZES DA CAPOEIRA
......................Demorou algum tempo para que a capoeira escrava do Rio imperial fosse vista pelos olhos de um cronista ou literato. Elísio de Araújo, em seu memorial da polícia carioca, faz uma narrativa brilhante:
A existência da capoeiragem é um fato incontestado na administração policial de Paulo Fernandes Viana. Reunidos nas tabernas, nas mais baixas ruas, ou nos terrenos devolutos, os pretos africanos e os mestiços do país (...) exercitavam-se em jogos de agilidade e destreza corporal, com imenso gáudio dos embarcadiços e marujos, que entre baforadas de fumo, impregnados de álcool, gostosamente apreciavam tais divertimentos. http://books.google.es/books?id=7tLGfv_zQd0C&pg=PA135&lpg=PA135&dq=jogos+de+agilidade+e+destreza+corporal,+com+imenso+g%C3%A1udio+dos+embarcadi%C3%A7os+e+marujos&source=web&ots=P0-1rqaJbU&sig=mIzuD4jnoUikv7adsjokB0hTEn8&hl=es&ei=NtaeSfyZKuKYjAeW8bDLCw&sa=X&oi=book_result&resnum=2&ct=result
Elísio de Araújo ainda descreve, no caso do século XIX, a capoeiragem jogada nos princípios do século, quase cem anos antes. Sua vivaz narrativa detalha como surgiram, posteriormente, as maltas, os temíveis grupos de escravos que assustavam o Rio joanino.
....................Os meados de 1810 assistem o crescimento tenaz da atuação das maltas de capoeiras na cidade, o que resultou em uma grande atividade repressiva por parte da polícia imperial. Os ocorridos ficaram cada vez mais intensos que no decorrer do ano de 1814, aumentam progressivamente e espantosamente as devassas mandadas contra os indivíduos encontrados na posse de navalhas ou acusados de serem os autores dos ferimentos feitos com esta arma.
2.1 Um debate sobre a origem do capoeira
A versão para o berço da capoeiragem partiu do imigrante português Plácido Domingo.Vale ressaltar que esta versão fez escola. É um trabalho difícil estudar a capoeiragem primitiva, porque não é bem conhecida sua origem. “Uns atribuem-na aos pretos africanos, o que julgo um erro, pelo simples fato que na África não é conhecida a nossa capoeiragem, e sim algumas sortes de cabeça.” (Soares, 2001, p. 40).
E o mesmo autor ainda sugere que,
Aos nossos índios também não se pode atribuir porque apesar de possuírem a ligeireza que caracteriza os capoeiras, contudo não conhecessem os meios que estes empregavam para o ataque e a defesa. O mais racional é que a capoeiragem criou-se, desenvolveu-se se aperfeiçoou entre nós.
Foi desta forma que nasceu a versão original e da origem nacional da capoeira, que até os dias de hoje continua sendo um tema polêmico entre os pesquisadores da área.
Algum tempo depois o pesquisador Pires de Almeida, já na onda do resgate da capoeiragem como “ginástica nacional”, no apogeu da belle époque, traduzia o embate das idéias sobre a origem africana.
As origens desse jogo prense-se inquestionavelmente às danças guerreiras de tribos ou nações africanas, quando menos nos lances primitivos como muito bem demonstra a tradição conservada pelas estampas de insuspeitos de viajantes que aqui tivemos. (Soares, 2001, p. 42).
2.2 Etimologia do termo capoeira
O jornal Rio Sportivo, do então Distrito Federal iniciou a publicação de uma série de artigos com o título pitoresco de Capoeiras e capoeiragens http://www.capoeira-infos.org/ressources/textes/t_melo_morais_filho.html . O primeiro artigo pertenceu ao arquiteto e historiador Adolfo Morales de Los Rios Filho. Este usava um refrão que era comum entre os cronistas e homens de letras que discutiam o tema, ele defendeu “a capoeira como arma de defesa pessoal, tão poderosa como o boxe britânico e norte-americano, a savate francesa e parisiense, o jiu-jítsu japonês e a clássica luta romana.” Este resgate era bastante oportuno no momento em que o esporte alcançava cada vez maior público, isso ocorreu primordialmente na capital.
2.2 Etimologia do termo capoeira
..................Aqui ele descreve de forma brilhante o capoeira da primeira metade do século XIX: “Mata-Mouros, freqüentador de tascas, empreiteiro de crimes e surras, auxiliar de políticos, guarda-costas dos homens de prol e guardião das senhoras requestadas pelos “Dom Juan’ cariocas”.
Luís Edmundo reconstrói e projeta uma imagem romântica que tinha feito furor entre os memorialistas do Rio de Janeiro:
Alguns usavam capas de saragoça envolvendo todo o corpo. A maioria de pés no chão, outros calçavam tamancos de alpergatas de palha. Mas todos traziam no pescoço um escapulário com o santo ou santa de devoção ou da sua freguesia. Diante do olhar embasbacado dos circunstantes- soldados, rameiras, pés-rapados, ciganos, lavadeiras, aguadeiros, quitandeiras; o capoeira entra em cena. (Soares, 2001, p. 51).
A capoeira na Armada
Os anos de 1830 foram marcados pelo medo da sublevação militar, tanto como da insurreição escrava. Os motins dos soldados causaram grandes preocupações para a elite política. E, entre os militares de baixa patente que traziam dor de cabeça, para os governadores, estavam os marujos da Armada.
Os marinheiros eram tidos como notórios arruaceiros e fator de desordem nas cidades costeiras. Acostumados a um regime de extrema violência a bordo, estavam calejados para enfrentar a truculência cotidiana da polícia, quando desembarcavam de folga. (Soares, 2001, p. 291). A capoeira deveria ser um instrumento eficiente para lidar com os magotes policias que circulavam pela cidade à noite.
................Os capoeiras também tinham a noite como momento preferido para reuniões e atividades, decerto para escapar da vigilância policial. Muitas vezes, o capoeira e o marujo habitavam o mesmo indivíduo.
Ontem às 9 horas da noite foi preso no meu distrito o preto Firmino, que diz ser forro e ter praça de marinheiro a bordo da Escuna de Guerra Itaparica por estar com outros pretos de capoeiragem, de que está ferido na cabeça, e já o mandei curar e o remeto a V. Exc. para que, sendo verdade o que diz, lhe dê destino e, quando não, o fará regressar para este juízo a se fazerem as indagações necessárias.
É claro que tais braços eram obtidos da forma mais violenta e arbitrária possível, aprisionando todos os que fossem encontrados vagando, mesmo marinheiros empregados em navios mercantes, e os levando à força para a Armada. A intenção da polícia, era tão somente, capturar tantos marinheiros quanto fosse possível e engajá-los contra a sua vontade na guerra.
É interessante o número de desertores na Marinha de Guerra. A experiência da fuga, desta forma era mais um mecanismo compartilhado por escravos, capoeiras e marinheiros, “deve ter estreitado laços de camaradagem, mesmo com marujos estrangeiros.”, como apontou Manolo.
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrio02.htm
Os desordeiros: do mundo do crime ao mundo da cultura
Rodrigo Janiques Vieira
Monografia apresentada para conclusão do curso de licenciatura em História.
Orientador: Professor Dr. Valeriano Altoé
Capoeiras, capoeiras! gente que com a testa faz n´um instante mais espalhafato que meia dúzia de Godans ébrios a jogarem o soco; gente que com a faquinha n´uma mão e o copo na outra afronta o mais intrépido valentão, mete às vezes uma patrulha no chinelo, fazendo-a amolar as gâmbias com a maior frescura do mundo; gente gárrula, provocadora, que só guarda as esquinas ou as praças do mercado, rebuçada às vezes em uma velha capa, trazendo o seu cacetinho por disfarce. Eis os capoeiras!
O CORREIO DA TARDE, Rio de Janeiro, 3/11/1849
2 AS RAÍZES DA CAPOEIRA
......................Demorou algum tempo para que a capoeira escrava do Rio imperial fosse vista pelos olhos de um cronista ou literato. Elísio de Araújo, em seu memorial da polícia carioca, faz uma narrativa brilhante:
A existência da capoeiragem é um fato incontestado na administração policial de Paulo Fernandes Viana. Reunidos nas tabernas, nas mais baixas ruas, ou nos terrenos devolutos, os pretos africanos e os mestiços do país (...) exercitavam-se em jogos de agilidade e destreza corporal, com imenso gáudio dos embarcadiços e marujos, que entre baforadas de fumo, impregnados de álcool, gostosamente apreciavam tais divertimentos. http://books.google.es/books?id=7tLGfv_zQd0C&pg=PA135&lpg=PA135&dq=jogos+de+agilidade+e+destreza+corporal,+com+imenso+g%C3%A1udio+dos+embarcadi%C3%A7os+e+marujos&source=web&ots=P0-1rqaJbU&sig=mIzuD4jnoUikv7adsjokB0hTEn8&hl=es&ei=NtaeSfyZKuKYjAeW8bDLCw&sa=X&oi=book_result&resnum=2&ct=result
Elísio de Araújo ainda descreve, no caso do século XIX, a capoeiragem jogada nos princípios do século, quase cem anos antes. Sua vivaz narrativa detalha como surgiram, posteriormente, as maltas, os temíveis grupos de escravos que assustavam o Rio joanino.
....................Os meados de 1810 assistem o crescimento tenaz da atuação das maltas de capoeiras na cidade, o que resultou em uma grande atividade repressiva por parte da polícia imperial. Os ocorridos ficaram cada vez mais intensos que no decorrer do ano de 1814, aumentam progressivamente e espantosamente as devassas mandadas contra os indivíduos encontrados na posse de navalhas ou acusados de serem os autores dos ferimentos feitos com esta arma.
2.1 Um debate sobre a origem do capoeira
A versão para o berço da capoeiragem partiu do imigrante português Plácido Domingo.Vale ressaltar que esta versão fez escola. É um trabalho difícil estudar a capoeiragem primitiva, porque não é bem conhecida sua origem. “Uns atribuem-na aos pretos africanos, o que julgo um erro, pelo simples fato que na África não é conhecida a nossa capoeiragem, e sim algumas sortes de cabeça.” (Soares, 2001, p. 40).
E o mesmo autor ainda sugere que,
Aos nossos índios também não se pode atribuir porque apesar de possuírem a ligeireza que caracteriza os capoeiras, contudo não conhecessem os meios que estes empregavam para o ataque e a defesa. O mais racional é que a capoeiragem criou-se, desenvolveu-se se aperfeiçoou entre nós.
Foi desta forma que nasceu a versão original e da origem nacional da capoeira, que até os dias de hoje continua sendo um tema polêmico entre os pesquisadores da área.
Algum tempo depois o pesquisador Pires de Almeida, já na onda do resgate da capoeiragem como “ginástica nacional”, no apogeu da belle époque, traduzia o embate das idéias sobre a origem africana.
As origens desse jogo prense-se inquestionavelmente às danças guerreiras de tribos ou nações africanas, quando menos nos lances primitivos como muito bem demonstra a tradição conservada pelas estampas de insuspeitos de viajantes que aqui tivemos. (Soares, 2001, p. 42).
2.2 Etimologia do termo capoeira
O jornal Rio Sportivo, do então Distrito Federal iniciou a publicação de uma série de artigos com o título pitoresco de Capoeiras e capoeiragens http://www.capoeira-infos.org/ressources/textes/t_melo_morais_filho.html . O primeiro artigo pertenceu ao arquiteto e historiador Adolfo Morales de Los Rios Filho. Este usava um refrão que era comum entre os cronistas e homens de letras que discutiam o tema, ele defendeu “a capoeira como arma de defesa pessoal, tão poderosa como o boxe britânico e norte-americano, a savate francesa e parisiense, o jiu-jítsu japonês e a clássica luta romana.” Este resgate era bastante oportuno no momento em que o esporte alcançava cada vez maior público, isso ocorreu primordialmente na capital.
2.2 Etimologia do termo capoeira
..................Aqui ele descreve de forma brilhante o capoeira da primeira metade do século XIX: “Mata-Mouros, freqüentador de tascas, empreiteiro de crimes e surras, auxiliar de políticos, guarda-costas dos homens de prol e guardião das senhoras requestadas pelos “Dom Juan’ cariocas”.
Luís Edmundo reconstrói e projeta uma imagem romântica que tinha feito furor entre os memorialistas do Rio de Janeiro:
Alguns usavam capas de saragoça envolvendo todo o corpo. A maioria de pés no chão, outros calçavam tamancos de alpergatas de palha. Mas todos traziam no pescoço um escapulário com o santo ou santa de devoção ou da sua freguesia. Diante do olhar embasbacado dos circunstantes- soldados, rameiras, pés-rapados, ciganos, lavadeiras, aguadeiros, quitandeiras; o capoeira entra em cena. (Soares, 2001, p. 51).
A capoeira na Armada
Os anos de 1830 foram marcados pelo medo da sublevação militar, tanto como da insurreição escrava. Os motins dos soldados causaram grandes preocupações para a elite política. E, entre os militares de baixa patente que traziam dor de cabeça, para os governadores, estavam os marujos da Armada.
Os marinheiros eram tidos como notórios arruaceiros e fator de desordem nas cidades costeiras. Acostumados a um regime de extrema violência a bordo, estavam calejados para enfrentar a truculência cotidiana da polícia, quando desembarcavam de folga. (Soares, 2001, p. 291). A capoeira deveria ser um instrumento eficiente para lidar com os magotes policias que circulavam pela cidade à noite.
................Os capoeiras também tinham a noite como momento preferido para reuniões e atividades, decerto para escapar da vigilância policial. Muitas vezes, o capoeira e o marujo habitavam o mesmo indivíduo.
Ontem às 9 horas da noite foi preso no meu distrito o preto Firmino, que diz ser forro e ter praça de marinheiro a bordo da Escuna de Guerra Itaparica por estar com outros pretos de capoeiragem, de que está ferido na cabeça, e já o mandei curar e o remeto a V. Exc. para que, sendo verdade o que diz, lhe dê destino e, quando não, o fará regressar para este juízo a se fazerem as indagações necessárias.
É claro que tais braços eram obtidos da forma mais violenta e arbitrária possível, aprisionando todos os que fossem encontrados vagando, mesmo marinheiros empregados em navios mercantes, e os levando à força para a Armada. A intenção da polícia, era tão somente, capturar tantos marinheiros quanto fosse possível e engajá-los contra a sua vontade na guerra.
É interessante o número de desertores na Marinha de Guerra. A experiência da fuga, desta forma era mais um mecanismo compartilhado por escravos, capoeiras e marinheiros, “deve ter estreitado laços de camaradagem, mesmo com marujos estrangeiros.”, como apontou Manolo.
http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrio02.htm
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