jueves, 15 de enero de 2009

Lusofonias perdidas e identidades sociais

Grabado: Iles Celèbes: Danse Guerrière, exécutée chex le Résident hollandais. (Bourou.). (1830-1835) . http://digitalgallery.nypl.org/nypldigital/id?1266977
Os cristãos de Amboino, embora incorporando algum sangue de portugueses que se estabeleceram neste porto da rota das especiarias indonésias, são na sua maior parte descendentes dos chamados mardika ou «libertos», cuja origem remonta ao grupo de nativos, escravos dos sultões de Ternate, que, tendo sido alforriados por padres da Companhia de Jesus e depois baptizados, foram deslocalizados das Molucas setentrionais para as ilhas centrais. Desenraizados, aprenderam as técnicas militares europeias com os portugueses, ao lado dos quais combateram nas contínuas guerras em que estes se viram envolvidos, conquistando, assim, a reputação de guerreiros e o respeito das comunidades nativas.
Os holandeses, que fizeram de Amboino a sua sede para operações marítimo-comerciais na Indonésia oriental, referiram-se aos cristãos locais como «portugueses-negros» e tomaram-nos ao seu serviço como funcionários intermediários entre a administração colonial e os nativos em processo de acelerada islamização. Do ponto de vista sócioeconómico, esta sociedade foi caracterizada pela existência de uma elite rica e pouco numerosa, de funcionários e mercadores que viviam «à lei» dos portugueses, isto é, rodeados de servidores, escravos e concubinas, vasta prole e parentelas, no habitual quadro de família alargada, sendo o número de dependentes o modo de aferir a riqueza e o estatuto social nestas regiões.
Embora não saibamos se estas comunidades luso-asiáticas usavam a língua portuguesa na sua vida diária, ou se apenas se serviam dela como lingua franca – o que aliás era prática corrente na região, já que até membros das elites nativas, designadamente os próprios sultões de Ternate e de Tidore, nas ilhas Molucas, ou o rico e poderoso sultão de Macassar, no sul das Celebes, falavam fluentemente português –, acabaram por abandoná-la não perdendo, contudo, a sua identidade de «portugueses», que algumas famílias cristãs de Amboino ainda hoje reivindicam, ao mesmo tempo que exibem orgulhosamente um apelido condizente – «Pirira» ou outro – a par de artes tradicionais, designadamente musicais, de inspiração europeia, provavelmente holandesa. Curiosamente, a sua adesão ao reformismo holandês durou apenas o tempo em que lhes faltou a assistência espiritual dos padres católicos de Malaca e das Filipinas, em fins do século XVII, até à chegada de missionários franceses já no século XVIII.
http://www2.iict.pt/index.php?idc=102&idi=11701
The Endeavour Journal of Joseph Banks 1768–1771 [Volume Two]
Some account of Batavia

1 Mardijker, a Dutch transformation of Malay merdeheka, freedom (as opposed to servitude) or free: apparently assimilated to the Mardijker of Mardijk, a small port near Dunkirk, from which Spanish privateers in the seventeenth century made themselves a great nuisance to Dutch shipping. The Mardijkers, descendants of former slaves, mostly imported from the coast of India, were Christians and therefore not compelled to wear a national costume, as were other Asiatics at Batavia. ‘They wear so-called European costume, but without shirt, socks or shoes. They parade, dressed up like a quack's monkey at a country fair, and are the shrewdest and most self-conceited of Batavia's inhabitants.’—Chastelein, the humanitarian Batavian estate-owner (d. 1714), quoted by B. H. M. Vlekke, Nusantara (Cambridge, Mass. 1944), p. 173.
http://www.nzetc.org/tm/scholarly/tei-Bea02Bank-t1-body-d4-d6.html#reference-to-fn1-199

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