O extremo da ilha, onde hoje fica a zona dos cemitérios e o crematório dos hindus baneanes, construídos a partir de meados do século XIX, era antigamente um local praticamente desabitado.
Como facilmente se depreende, a população da Ilha de Moçambique era relativamente pequena e muito heterogénea. Fixou-se em áreas bem determinadas, de acordo com a sua riqueza, estatuto social e origem religiosa. Podemos, no entanto, afirmar que a Ilha e as aldeias que ficavam defronte, no continente, eram mestiças. Até meados do século XIX, os dados disponíveis sobre a população das povoações moçambicanas são muito incompletos. O censo elaborado pela Câmara, em 1766, sobre os ofícios e a forma viviam os habitantes da Ilha de Moçambique e das Terras Firmes, indica que cerca de 61% dos residentes eram goeses cristãos ou «filhos de Moçambique», os filhos de reinóis e de goeses com nativas moçambicanas.
A maioria das famílias brancas originárias do Reino concentrava-se no núcleo urbano de pedra e cal da Ilha, mas muitas destas famílias também possuíam quintas rurais no Mossuril e na Cabaceira Grande, onde permaneciam com seus escravos e dependentes, durante longas temporadas de repouso18. Segundo Gerhard Liesegang, uma estimativa baseada em censos parciais de 1806 e 1831, calcula que a população da ilha de Moçambique não excedesse as 4000 almas, a maior parte escrava19.
Os baneanes hindus oriundos do Guzerate viviam quase todos na Ilha, geralmente em casas alugadas aos jesuítas ou a outra ordem religiosa, de preferência junto à alfândega ou junto à costa, em contacto directo com a carga e descarga de navios. Os muçulmanos asiáticos viviam maioritariamente na contracosta, desde o terreiro de S. Gabriel onde produziam as cordas de cairo, essenciais à vida marítima.
Os negros autóctones, escravos livres, mulatos e alguns muçulmanos autóctones viviam em palhotas a sul do convento-hospital de S. João de Deus e dos poços da Marangonha. A Ilha de Moçambique, lugar de encontro de diferentes culturas, povos e religiões, encontra precisamente nessa dimensão da diferença a sua marca identitária mais forte. Esta questão da pluralidade, a que acresce a necessidade de protecção, reabilitação e preservação do seu património, confere à Ilha de Moçambique um estatuto importante no panorama histórico e cultural da humanidade e convida os cientistas sociais a debruçarem-se sobre uma história que reconhece a todos os sujeitos em presença um papel activo e enriquecedor, especialmente se esses sujeitos têm origens tão distintas quanto as que se encontram no Índico africano.
Como facilmente se depreende, a população da Ilha de Moçambique era relativamente pequena e muito heterogénea. Fixou-se em áreas bem determinadas, de acordo com a sua riqueza, estatuto social e origem religiosa. Podemos, no entanto, afirmar que a Ilha e as aldeias que ficavam defronte, no continente, eram mestiças. Até meados do século XIX, os dados disponíveis sobre a população das povoações moçambicanas são muito incompletos. O censo elaborado pela Câmara, em 1766, sobre os ofícios e a forma viviam os habitantes da Ilha de Moçambique e das Terras Firmes, indica que cerca de 61% dos residentes eram goeses cristãos ou «filhos de Moçambique», os filhos de reinóis e de goeses com nativas moçambicanas.
A maioria das famílias brancas originárias do Reino concentrava-se no núcleo urbano de pedra e cal da Ilha, mas muitas destas famílias também possuíam quintas rurais no Mossuril e na Cabaceira Grande, onde permaneciam com seus escravos e dependentes, durante longas temporadas de repouso18. Segundo Gerhard Liesegang, uma estimativa baseada em censos parciais de 1806 e 1831, calcula que a população da ilha de Moçambique não excedesse as 4000 almas, a maior parte escrava19.
Os baneanes hindus oriundos do Guzerate viviam quase todos na Ilha, geralmente em casas alugadas aos jesuítas ou a outra ordem religiosa, de preferência junto à alfândega ou junto à costa, em contacto directo com a carga e descarga de navios. Os muçulmanos asiáticos viviam maioritariamente na contracosta, desde o terreiro de S. Gabriel onde produziam as cordas de cairo, essenciais à vida marítima.
Os negros autóctones, escravos livres, mulatos e alguns muçulmanos autóctones viviam em palhotas a sul do convento-hospital de S. João de Deus e dos poços da Marangonha. A Ilha de Moçambique, lugar de encontro de diferentes culturas, povos e religiões, encontra precisamente nessa dimensão da diferença a sua marca identitária mais forte. Esta questão da pluralidade, a que acresce a necessidade de protecção, reabilitação e preservação do seu património, confere à Ilha de Moçambique um estatuto importante no panorama histórico e cultural da humanidade e convida os cientistas sociais a debruçarem-se sobre uma história que reconhece a todos os sujeitos em presença um papel activo e enriquecedor, especialmente se esses sujeitos têm origens tão distintas quanto as que se encontram no Índico africano.
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