viernes, 21 de agosto de 2009

1772-Santos-Prohibición de "gonçalinhas"-Umbingadas,Congadas,luchas y Uruncongos

Por Francisco Martins dos Santos(Fundador do Instituto Histórico e Geogr. de Santos,da Sociedade de Homens de Letras do Brasil.
Santos também teve festas de São Gonçalo"...mourão é pau, aranha é bicho, pinto é pinto..."
A tradicional festa que ainda subsiste em vários estados brasileiros também foi registrada em Santos, no século XVIII, como relatou o pesquisador Francisco Martins dos Santos, na edição de 26 de março de 1944 do jornal santista A Tribuna (grafia atualizada nesta transcrição):No século dezoito não havia carnaval no Brasil. O virus da pagadoeira ainda não se inoculara no sangue do nosso povo e Momo I e Único ainda não descobrira a terra cabralina mas, em alguns lugares, as festas de São Gonçalo eram o próprio Carnaval de agora, um pouco agravado em suas características, o que não deixa de ser lisongeiro para o mal falado século XX.
São Gonçalo era o santo das danças e das festas ruidosas, incluindo-se nessas festas as cavalhadas. Em Santos não havia cavalhadas, mas havia coisa melhor, mais divertida, e na altura de 1770, as "gonçalinas" eram mais do que tudo aquilo, eram o pretexto para certos excessos, para a bacanal, a folia rasgada e desabusada em que se metiam, por dois ou três dias, brancos e negros, pardos e marabás, rameiras e moças do povo, e também as grã-finas da época, as sinhazinhas ricas, que o vulgo em geral só via nas missas domingueiras, tal o seu recato, e todos seduzidos pelo raro encanto daqueles dias e daquelas noites.
........................"A brincadeira passa da rua para dentro das casas e de dentro das casas para a rua, culminando com uma tal de umbigadas que vai ao som de uma banda de música, misturada com vários instrumentos africanos, realizada na praça, e que é verdadeiramente inesquecível.
........................A fama das brincadeiras santistas cresceu tanto, pois tantas foram as liberdades tomadas a cada ano que, em 1772, o capitão-general d. Luiz Antônio Mourão, prevendo o pandemônio da vila litorânea, naturalmente sob influência de queixas religiosas e políticas, provendo ao decoro do seu governo, baixou ao comandante da Praça Militar de Santos, Aranha Barreto, e ao juiz de fora, José Gomes Pinto de Morais, uma ordem severíssima e terminante, datada de 27 de dezembro.
Dias antes da festa tradicional, afixavam-se em vários pontos da vila santista cartazes contendo a ordem do governador da Capitania e faziam-se vários bandos oficiais alusivos à proibição, dizendo isto, que os Documentos Interessantes consignam:
"O snr. capitão general d. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, faz saber ao povo desta Vila que de nenhuma forma consentirá nos festejos de São Gonçalo, barulhos que se façam estranháveis e repreensíveis, e só permitirá aqueles que forem lícitos ao público, e de máscaras para honra e louvor do mesmo santo com aquele sossego, decência e seriedade que deve haver em semelhantes festividades, por lhe constar que em tais festejos nesta vila andam em chusmas, de noite e de dia pelas ruas, homens e mulheres, do que podem seguir-se ações indecorosas que não devem praticar-se nem consentir-se entre católicos (SIC).
(a) Francisco Aranha Barreto
(a) José Gomes Pinto de Moraes".
O bando estourou como uma bomba nos arraiais da vila santista. O Campo da Misericórdia já estava preparado para o último arranco da folia, exatamente a famosa Dança das Umbigadas, à noite, com fogueiras em torno, bandeirolas, fogos e luminárias de bambu a azeite de peixe da Bertioga.
Os foliões, que incluíam congadas e lutas simuladas de índios e bandeirantes em seus folguedos, ficaram desolados com a notícia, mas pouco resolvidos a cumprir a determinação do governador.
Foi chegando o dia. Chegou. Toda a vila ficou cheia de zumbos, tutúques e retuntuns. Abolia-se o trabalho, voluntário ou não. Urucungos gemiam desde a madrugada, nos fundos de quintais com o despertar dos negros. Atabaques e timutus logo os secundariam, respondidos ao longo pelos corimbós, enquanto as cantigas sensuais dos homens da senzala iam tomando corpo como uma liturgia africana, com pinceladas de velório e matanga. Nas ruas logo apareceram os primeiros grupos mascarados, lembrando o efêmero advento de São Gonçalo. Chegava gente dos sítios vizinhos, de
Cubatão, de Jurubatuba, de Itapema, e até de Bertioga, para as brincadeiras.

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