Não por acaso, portanto, o Governador-Geral Affonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça escrevia ao capitão-mor da Cidade da Bahia, em 22 de novembro de 1672, lembrando-o do trabalho em que consistia conservar “a gente do mar” que trouxera a nau da Índia São Pedro de Rates então surta no porto de Salvador. Reiterando que formar tripulação para a carreira representava um ônus enorme aos indivíduos, Rio de Mendonça afirma que grande fora o “trabalho com que se conservou a gente do mar, que trouxe essa nau, e se ajuntou e recolheu a ela a que faltava para ficar com toda a que lhe era necessária para sua navegação”. Cuidava, pois, para que os marujos “não pudessem fugir” e, em função desse desiderato, “enviei a vossa mercê um ajudante com soldados bastantes para as sentinelas de sua guarda: e encomendei a vossa mercê que não viesse, nem deixasse vir a terra, marinheiro algum, nem pessoa alguma do mar”. A nau da Índia era, assim, além de uma cidade, uma prisão flutuante. Mesmo assim, porém, vinham “à terra muitos marinheiros”, e muitos não se recolhiam ao galeão, “antes é já fugido algum”. Cabia ao capitão-mor da Cidade da Bahia procurar os marujos fugitivos e reconduzi-los ao navio com urgência, pois este estava, por essa época, prestes a partir. A idéia do navio-prisão era, então, reforçada em nome do serviço de Sua Alteza e do descanso do governador-geral:
Vossa mercê ponha neste particular todo o desvelo, e se for necessário outro cabo e mais soldados o mandarei logo para se dobrarem as sentinelas, mandando vossa mercê fechar as portinholas, mais ocasionadas à sua fugida; e os batéis em sendo noite de maneira que se não possam valer deles; porque não pode haver mais grave prejuízo ao serviço de Sua Alteza que faltar a gente do mar, quando a Nau está para partir; e todo o que neste particular houver, correrá por conta de vossa mercê, a quem faço esta lembrança por ser tão importante todo o cuidado que vossa mercê deve por em evitar por todos os meios, que de nenhum modo possa fugir mais dessa nau pessoa alguma tocante à sua mareação. Mas vossa mercê é tão prevenido e a sua assistência é tanta nessa nau que creio que poderei estar descansado. 20
Tal como os escravos marinheiros do Brasil imperial, empregados nos navios mercantes e de cabotagem no século XIX, os marujos da carreira de fins do século XVII – fossem recrutados no Reino, fossem na América – pareciam fugir de bordo a nado, escapando pelas “portinholas”, ou servindo-se dos batéis existentes nos galeões da Armada. Fosse como fosse, sua sina era dura e sem remissão. Apenas a metade dos embarcados veria, do outro lado do mundo, a Goa dourada. Por sua vez, no século XVIII, observa-se que a demanda por marujos da América aumenta significativamente.
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