jueves, 18 de diciembre de 2008

Cultura marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil (sécs. XVIII E XIX)

Navíos de la Carreira da India:
Goa and Portugal Escrito por Charles J. Borges, Hannes Stubbehttp://books.google.es/books?id=diISslZgIAkC&pg=PA214&dq=lamartine+pereira+da+costa&lr=&as_brr=3


Cultura marítima: marinheiros e escravos no tráfico negreiro para o Brasil (sécs. XVIII E XIX)1 Jaime RodriguesDoutorando - UNICAMP .

Em seu estudo sobre as tripulações da marinha inglesa, Marcus Rediker identificou pessoas de várias origens a serviço de Sua Majestade britânica: franceses, alemães, portugueses, espanhóis, escandinavos, africanos, asiáticos e americanos. Também na colônia francesa de São Domingos em fins do século XVIII havia uma extraordinária diversidade de origem entre os marinheiros europeus que ali arribavam; espanhóis insulares, italianos, malteses e outros de diversas nacionalidades vinham ter a São Domingos no curso de uma longa viagem. Esse "caldeirão de internacionalismo", na expressão de Linebaugh, era ainda mais notório nas tripulações piratas8.
Contudo, a origem nacional das equipagens negreiras destinadas ao Brasil parece ter sido mais homogênea. Os dados a respeito de trinta tripulações negreiras do século XIX demonstram as seguintes proporções de distribuição conforme a nacionalidade:
TABELA I

Excetuando os sete cabo-verdianos da amostra e outros três homens livres africanos e negros, os demais africanos mencionados eram ou haviam sido escravos, o que nos remete a outros aspectos importantes na formação da cultura marítima do tráfico negreiro: a presença marcante das culturas africanas e escravas a bordo e a diversidade social existente nas equipagens. Os tripulantes africanos, quase sempre na condição de marinheiros - ainda que por vezes em tarefas especializadas - estavam submetidos ao domínio dos oficiais, como de resto todos os marinheiros. Entretanto, sua situação poderia ser de discriminação e eventualmente suas falhas no trabalho seriam punidas de forma mais rigorosa.

No caso dos moços ou grumetes escravos, a média etária deles contrariava a propalada regra de que os rapazes deveriam iniciar-se cedo no aprendizado do trabalho marítimo. No entanto, quase nada sabemos sobre as formas de recrutamento dos tripulantes. Amaral Lapa nos diz que a maneira mais comum de recrutar homens para a Carreira da Índia era a compulsória, o que ajuda a compreender falta de civilidade quando em terra e as constantes deserções10. Entretanto, o engajamento de homens livres e pobres em navios para aprenderem uma profissão também estava de acordo com as regras do mercado de trabalho existente para essa camada popular, que tinha no mar uma possibilidade arranjar trabalho em troca de salário - e em se tratando do Brasil colonial, uma das raras possibilidades de emprego disponíveis para esse tipo de mão-de-obra.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01881999000200002&script=sci_arttext&tlng=en

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