Conclusão
No século XVIII, os portugueses deparavam com dificuldades cres-centes para preencher o regimento de infantaria de Moçambique. Não só o Brasil atraía a maior parte dos que saíam de Portugal, como a elevada morta-lidade verificada na costa oriental africana contradizia qualquer esforço decompletar o exército com reinóis. Desenvolvendo um discurso sobre ainadequação dos soldados europeus ao meio moçambicano, durante a se-gunda metade da centúria, a administração da colónia tentou encontrar alternativas no quadro do Índico. As soluções ensaiadas centraram-se, numa primeira fase, no recurso aos cipaios importados da Índia para conduzirem,posteriormente, ao recrutamento para o exército regular de soldados natu-rais da colónia, nomeadamente dos patrícios, nos Rios de Sena, e dos macuas e suaílis, no litoral da ilha de Moçambique. Esse processo desembocaria no projecto, formulado na colónia e desenvolvido em Lisboa, de naturalizar o regimento de Moçambique, reservando o oficialato para os europeus. Não obstante, os inúmeros obstáculos levantados ao recrutamento local inviabilizariam a constituição de um regimento completamente preenchido com gente da colónia.
Integrando um longo processo de trocas intercoloniais entre a Índia e Moçambique, a experiência de recrutamento de cipaios indianos, a que sucedeu a constituição de companhias de cipaios moçambicanos, reflectir-se-ia em Moçambique não apenas em termos militares, como também
lingüísticos. De facto, a designação de cipaios importada da Índia transitou para os soldados africanos, incorporando-se na terminologia marcial moçambicana. Primeiro, para identificar as companhias de naturais da colónia que integravam o exército regular português, como foi o caso da companhia de macuas e suaílis da Terra Firme. Progressivamente, essa denominação estendeu-se a quaisquer combatentes africanos. As descrições sobre os confrontos militares oitocentistas identificam os combatentes moçam-bicanos, tanto os soldados regulares ao serviço do exército português como os que eram mobilizados pelos senhores dos prazos, como cipaios
89 . As denominações locais para os soldados moçambicanos, como “cafres de arco” e achikunda, foram progressivamente elididas pela nomenclatura indiana.
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