lunes, 10 de noviembre de 2008

QUANDO OS FILHOS DE MARTE PARTEM DA LUSITÂNIA

O processo de mundialização da cultura militar portuguesa:
(Francis Albert Cotta).
Através dos escritos de Silveira, podem-se identificar fragmentos do cotidiano dos soldados portugueses na Índia. O primeiro desafio dos soldados seria sobreviver à viagem, marcada pela “corrupção das gengivas, febres pestilentas, fluxos de ventres e outras enfermidades”, originadas
por água contaminada, mantimentos deteriorados e pela falta de alimentação. Os sobreviventes desembarcavam na barra de Goa, sendo recebidos por uma salva de gritos e apelidos infames,
proferidos não somente pelos “jovens e negros, mas também pelos práticos de sua mesma nação e pátria”. Aqueles que não possuíam dinheiro ou uma carta para um amigo ou parente dormiriam nos alpendres das igrejas ou dentro de algum navio. Como não recebiam imediatamente os soldos, eram obrigados a vender seus objetos pessoais, alguns morriam de doença ou de subnutrição e outros acabariam por servir a um chefe indiano (Silveira, 1599, Liv. I, Cap. IV).
Quando os soldados se apresentavam para as atividades militares, deveriam possuir armas
particulares, cuja natureza era deixada inteiramente à sua escolha. Alguns apareciam com facas velhas e enferrujadas, outros com mosquetes ou chuços, havia ainda aqueles que portavam “armas fantasiosas”.
O recrutamento de homens pobres, alguns encaixados forçosamente sobre o rótulo de vadios e delinqüentes, tornou-se uma prática utilizada para suprir os contingentes nas diversas localidades do Império português. Em 1701, tendo em vista o grande número de delinqüentes e vadios em Portugal, dom Pedro II (1648-1706) decidiu deportar para a Índia aqueles que pela sua idade e robustez “me possam servir de soldados naquele Estado” 27
No aspecto tático, vários fidalgos e soldados defendiam a tática ofensiva à outrance, tendo por base a inferioridade numérica dos lusitanos. Uma carga impetuosa “enervava o inimigo, que se desmoralizava e fugia ao ver as armas brancas”, pois os portugueses acreditavam que se avançassem numa formação cerrada seriam um alvo imóvel para os arqueiros indianos (Boxer, 1969: 290). Todavia, Silveira acreditava que as armas de fogo portuguesas tinham maior alcance do que as flechas. Para ele, a tática utilizada pelos portugueses se traduzia num carregamento conjunto sobre o inimigo, “como um ajuntamento de garotos”, e caso esta ação falhasse, todos fugiriam (Silveira, 1599, Liv. I, Cap. VI). Considerava inadmissível que os soldados portugueses, “gente nascida e criada em Espanha - província que não só da Europa mas do mundo todo tem das armas o principado - fugissem de negros despidos sem ânimo e sem alguma claridade de ordem de guerra” (Silveira, 1599, Liv. I, Cap. VII).
João de Brito Lemos (1631), fidalgo da casa real que também serviu como militar, insistiu no caráter desordenado do comportamento em campanha dos soldados portugueses. Para ele, “os
portugueses são argutos, de bom entendimento e hábeis”. Todavia, reconhece que “pelo pouco exercício que usam da milícia são indômitos e feitos à sua vontade, não obedecendo aos seus oficiais e superiores”, conclui, porém, que “sendo exercitados se pode esperar deles o que é possível esperar-se de todas as nações do mundo” (Lemos, 1631, fl.26v).
http://www.fafich.ufmg.br/pae/apoio/quandoosfilhosdemartepartemdalusitania.pdf

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