martes, 11 de noviembre de 2008

Monhés, Baneanes, Chinas e Afro-maometanos, Colonialismo e racismo em Lourenço Marques, Moçambique, 1890-1940

dibujo:Coolies embarking at Macao. (1880-1905) http://digitalgallery.nypl.org/nypldigital/dgkeysearchdetail.cfm?trg=1&strucID=720182&imageID=833691&word=coolies&s=1&notword=&d=&c=&f=&k=0&lWord=&lField=&sScope=&sLevel=&sLabel=&total=15&num=0&imgs=20&pNum=&pos=4
Antônio Ennes, nos relatórios sobre a sua experiência como Comissário Régio de Moçambique, afirma que entre os comerciantes europeus era corrente a opinião de que uma das principais causas do atraso de Moçambique era a invasão da Província pelos asiáticos, " densos e vorazes como os gafanhotos ", mas mais danosos que estes pois nem serviam, como a praga, para " adubar os solo que devastam ". Sua narração a respeito destes asiáticos é uma seqüência de enunciados preconceituosos17.
Começa por descrever o que acontece a bordo dos navios que os trazem : vem empilhados nos convés junto com pandeiros de cabo e capoeiras de criação, associando-os à balbúrdia, à música alucinada e exótica e, particularmente, aos animais com os quais convivem. Sua alimentação seria parca e frugal, não mais que um " farnel de arroz cozido com drogas picantes ". É curioso que as famosas especiarias orientais, cuja cobiça movera a " gloriosa " expansão lusitana tão apreciada pela geração de Ennes, transformam-se em " drogas " quando se trata de depreciar outrem. Julgava que presença destes asiáticos não era agradável nem aos olhos nem ao olfato ; que eram refratários a assimilar os valores europeus e o maior indicativo disto era o fato de que não se conseguia nem mesmo persuadi-los a usarem calças. Andavam com " nuas pernas felpudas, surdindo das amplas dobras de roupagem que algum dia foram brancas, que no litoral ou no sertão arrastam açodadamente chinelas de formas indefinidas nas passadas de todos os comércios, de todas as industrias, de todos os misteres, e dizem que de todas as rapinagens mansas ", não podendo, portanto, se contar com eles para servirem de elementos civilizadores18.



Os " fanáticos do Profeta " e os " seguidores de Budha "
Em Lourenço Marques, além dos africanos, uma das mais segregadas comunidades era a dos monhés. Não conheço uma etimologia claramente estabelecida para o termo, entretanto, o Padre Daniel da Cruz, associa-o a " muenhe, proprietário, patrão, senhor "3. Apesar desta definição, este epíteto trazia, e traz ainda hoje, uma certa carga depreciativa e era utilizado, popularmente, para designar os várias grupos culturais de origem indiana, exceto os goeses cristãos que procuravam se comportar como europeus. O termo englobava tanto os baneanes, hinduístas, originários majoritariamente do Guzarate(Gujarat), quanto os mouros, seguidores do islã, quer fossem eles omanitas ou originários da Índia sob domínio britânico4. Na documentação da administração portuguesa o termo monhé não é corrente e, por vezes, é feita a distinção, mas, em geral, todos os indianos são classificados como asiáticos, fazendo com que, hoje, nem sempre possamos distinguir com o desejado rigor, tais categorias socio-racias. De qualquer modo, vamos nos aventurar por este caminho.
A presença de tal comunidade no sul de Moçambique deu-se por duas vias : a primeira como uma extensão, para sul, dos interesses mercantis estabelecidos na costa norte desde há séculos, e a segunda, e numericamente mais importante, está associada à articulação da região sul à economia das colônias britânicas e boers vizinhas5. A partir de 1860, milhares de trabalhadores (coolies) foram recrutados mais ou menos compulsoriamente na Índia, para servirem nas plantações de cana do Natal, província também sob domínio britânico. Findo os contratos, poucos voltaram para o território de origem, tornando-se criados domésticos, comerciários ou empregando-se nos caminhos de ferro e obras públicas. Na leva dos coolies, vieram também emigrantes livres, geralmente comerciantes muçulmanos, que disseminaram-se pelas demais províncias, que viriam a formar a União Sul Africana, e passaram a servir não só à comunidades de contratados, mas acabaram por concorrer, no comércio retalhista, com os comerciantes ingleses e judeus.

http://www.lusotopie.sciencespobordeaux.fr/zamparoni.rtf.

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