OS “FIÉIS” DA NAVALHA:
PEDRO MINEIRO, CAPOEIRAS, MARINHEIROS
E POLICIAIS EM SALVADOR NA REPÚBLICA VELHA*
Adriana Albert Dias**
............. “rapariga também do tombo”, o que pode indicar que ela, tal como Pedro Mineiro, era capoeira, pois é provável que o ‘jogo do tombo’ fosse uma outra maneira de se referir à capoeira, já que a finalidade maior dos jogadores era derrubar o adversário.17 .................Ora, é fato conhecido que desde o século XIX alguns capoeiras serviram na Marinha de Guerra brasileira. Alguns foram recrutados à força pelas autoridades policiais, como formade punição, e outros se alistaram voluntariamente, como meio de escaparda prisão.24 Também é fato conhecido que a navalha era um instrumento de luta muito usada pelos capoeiras.25 O que não é tão conhecido, é que havia uma técnica muito perigosa e eficiente de lançar a navalha amarrada num fio elástico para atacar um adversário que estivesse distante. Noca de Jacó, um capoeira nascido em Santo Amaro da Purificação em 1899, narrou seu aprendizado nessa forma de manejo da navalha.PEDRO MINEIRO, CAPOEIRAS, MARINHEIROS
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Adriana Albert Dias**
Primeiro disse que “dá muito trabalho” e “tinha que ter raça pra aprender e jogar, se arranha tudo, se corta todo”. Depois com gestos de corpo explicou: “tem que treinar [...] com a tora de bananeira” porque “a bananeira tem ‘nóia’ [nódoa], não dá pra ficar engatada, o diabo é tieco [reproduzindo o som da navalha sendo aberta]”. A pessoa “bota o pé aqui, amarrada aqui” e “manda ela lá, ela vai lá, dá o recado, e vorta doida”, isso porque “o cordão é de borracha” e fica preso à cintura, na passadeira da calça. Como o retorno é arriscado e pode ferir quem fez o lançamento, Noca acrescentou: “tem que aparar ela, dançar com ela enquanto ela se enrola, ela acabou de se enrolar, ela beliscou, [...] o caso é o senhor que amansa, espera ela se vestir”.26 Dessa maneira, o capoeira tinha de novo junto a seu corpo e em suas mãos uma outra navalha – não mais um instrumento de trabalho, mas uma arma perigosa e traiçoeira.
17 A esse respeito, Raul Pederneira, cronista e caricaturista carioca nascido no final do século XIX, escreveu que “O principal objetivo do capoeira era o tombo, empregando para isso variados expedientes. Podia ser dado pela rasteira ou rabo-de-arraia (que muitos hoje confundem com o calço): o capoeira abaixa-se rápido, apóia as mãos no terreno e arrasta horizontalmente uma das pernas, tendo antes o cuidado de peneirar, isto é fazer uns passes bem disfarçados, umas ameaças enganosas, para que o parceiro não descubra o movimento: dava-se assim o tombo de ladeira, o banho de areia ou de fumaça e mandava-se o parceiro conversar com as formigas. Perito na rasteira, o capoeira pode atirar no chão em pouco tempo cinco ou seis pessoas”. Raul Pederneira, “A defesa nacional”, A revista da semana, 07/05/1921, apud Jair Moura, “Na Seara do Tombo”, A Tarde, 03/04/1999.
http://www.afroasia.ufba.br/pdf/afroasia32_pp271_303_CapoeiraAdriana.pdf
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