martes, 10 de febrero de 2009

MÁRIO DE ANDRADE E O TAMBOR DE CRIOULA DO MARANHÃO



No trabalho de pesquisa realizado pela equipe da Missão de Pesquisas
Folclóricas, atualmente arquivado na Discoteca Oneyda Alvarenga, do Centro Cultural São Paulo, há gravações, filmes e fotografias em preto e branco. Em relação ao Maranhão há 60 fotos, 19 relativas ao tambor de crioula, 3 sobre bumba-meu-boi e as restantes sobre tambor de mina. No filme, recentemente
editado em vídeo por aquele Centro, constatamos que há toques de tambor de mina, de tambor de crioula e breve trecho com a dança do carimbó, onde apare- ce um homem tocando berimbau e uma mulher que dança usando um chapéu.
Com a interrupção da Missão em julho de 1938 e com a morte de seu idealizador em 1945, parte do material coletado no Maranhão e nos outros Estados, só a partir de 1946 foi publicado por Oneyda Alvarenga, dedicada secretária e amiga de Mário de Andrade.
....................O tambor grande é também chamado roncador ou rufador, o meião de socador ou chamador e o crivador é chamado de pequeno, pererengo ou meren- gue.
......................Dos tocadores aparecem, sem maiores indicações apenas os nomes 7 . Nas fotos vêem-se homens descalços, com chapéu de palha, tocando e cantando. Algumas dançantes usam chapéu. Uma delas segura uma toalha ou “pana”, como se estivesse em transe com um caboclo e saúda o tocador. Em outra foto há detalhes do movimento discreto da dançante mostrando a anágua. Aparecem homens tocando e cantando, alguns como se estivessem dando uma pernada,
que é comum de se ver em grupos de certas regiões do interior.
......................As gravações, fotos e filmagens sobre tambor de mina são mais detalha- das. Foram realizadas no terreiro da Fé em Deus, de dona Maximiana Silva 8 nos dias 17 e 18 de junho de 1938. Dona Maximiana realizava entre outras, uma grande festa no dia de São Pedro, mas ao que sabemos, em seu terreiro não havia festas de tambor de crioula. Portanto o toque de tambor de crioula docu- mentado pela MPF não deve ter sido realizado no terreiro de dona Maximiana.
Nas anotações dos Registros publicados por Oneyda Alvarenga, em rela- ção aos tambores de crioula aparece a indicação de que:
são feitos de pau de mangue e têm um só couro: no tambor
grande, ‘pele de bezerro ou veado’; no meião, ‘pele de gado’;
no pererenga ou quereré, ‘pele de tamanduá’... tambor grande
2 pancadas; meião 2 pancadas, perereca 4 pancadas
.
.................Em alguns lugares do interior do Maranhão, como no Município de Rosário, ou em festas em São Luís, com a presença de grupos de tambor de crioula, costuma ocorrer a punga dos homens ou pernada 14 , cujo objetivo é derrubar ao solo o companheiro que aceita este desafio. Algumas vezes a punga dos homens atrai mais interesse do que a dança das mulheres. Por ter certa semelhança com uma luta, a pernada ou punga dos homens tem sido comparada com a capoeira. A pernada que se constata no tambor de crioula do interior, lembra a luta africa-
na dos negros bantus chamada batuque, que Carneiro (1937, p. 161-165) descre- ve em Cachoeira e Santo Amaro na Bahia e que usava os mesmos instrumentos e lhe parece uma variante das rodas de capoeira 15 (FERRETTI et al, 2002, p. 50-51). Não conseguimos localizar até agora documentação referente a presen- ça antiga da capoeira no Maranhão 16
que seria importante visando apresentar maiores relações entre a capoeira e o tambor de crioula, tema que atualmente tem despertado grande interesse.
...................O tambor de crioula é uma dança de divertimento que se caracteriza pela importância da punga. O tambor de mina é uma dança religiosa em que o transe é o elemento fundamental. Estas distin- ções as vezes se diluem quando se dança tambor de crioula nos terreiros, onde ocorre tanto a punga quanto o transe.
.....................O tambor de crioula continua uma dança de negros ao som de tambores, típica do Maranhão, sendo hoje considerada como uma forma de afirmação cultural de negros da classe subalterna.
16 O viajante J. E. Pohl (1976: 254/255), que visitou a aldeia Cocal Grande dos índios Porecamecrãs ou Canelas no interior do Maranhão em 1819, faz referências à dança do joelho, chamado “bondurzi” em que batem violentamente os joelhos ao som de viola e palmas, repetindo o estribilho “Areia do Mar”, que seus acompanhantes executaram para mostrar aos índios o seu modo de dançar. Consi- dera essa dança não muito decente, mas usada no Brasil e que se deve distinguir do batuque usual entre os negros.

nota:
No trabalho de pesquisa realizado pela equipe da Missão, arquivado na Discoteca Oneyda Alvarenga, do Centro Cultural São Paulo, há gravações, filmes e fotografias em preto e branco e objetos coletados. Em relação ao Maranhão, há 60 fotos, 19 relativas ao tambor de crioula, 3 sobre bumba-meu-boi e as restantes sobre tambor de mina. No filme editado em vídeo pela equipe no Maranhão, constatamos que há toques de tambor de mina, de tambor de crioula e trecho com a dança do carimbó, em que aparece um homem tocando berimbau e uma mulher que dança usando chapéu.Com a interrupção da Missão em julho de 1938 e com a morte de seu idealizador em1945, parte do material coletado só a partir de 1946 foi publicado por Oneyda Alvarenga.

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