Na realidade, o conde da Torre não tinha qualquer intenção de abandonar o Brasil. No dia 20 de Janeiro, tendo conseguido, melhor ou pior, reagrupar a sua armada, fez um bordo para terra e foi fundear na foz do rio de Ceará-Mirim com a intenção de, no dia imediato, deixar ali as tropas. Mas, mais uma vez, as coisas não correram como havia planeado. Durante a noite, provavelmente devido à existência de forte ondulação, alguns galeões partiram as amarras e afastaram-se para o largo, onde ficaram a pairar sob vela, naturalmente descaindo para norte por acção do vento e da corrente. Ao outro dia, quando começou a clarear, D. Fernando fez-lhes sinal para que voltassem para o fundeadouro anterior, o que, provavelmente, mesmo que o quisessem não teriam possibilidade de fazer. A partir daí a armada desagregou-se rapidamente, apesar dos esforços do conde que, tendo passado para um patacho, procurou convencer os navios desgarrados a voltarem para a costa. Os espanhóis recusaram-se abertamente a aceitar as suas ordens, sob pretexto de que a campanha tinha terminado, e seguiram para as Caraíbas, acompanhados por três galeões portugueses, cujos capitães terão achado ser essa a solução mais correcta. Os restantes galeões portugueses e os navios mercantes tomaram o rumo dos Açores. A campanha tinha de facto acabado e o sonho de manter permanentemente uma poderosa armada luso-espanhola no Brasil desfizera-se em fumo.Entretanto, os navios ligeiros que haviam permanecido junto à foz do rio de Ceará-Mirim tinham posto em terra cerca de 1300 soldados que, sob o comando do mestre-de-campo Luís Barbalho, iniciaram uma portentosa marcha de cerca de mil e quinhentos quilómetros, através do território ocupado pelos holandeses, com os quais travaram numerosos combates, acabando por chegar à Baía, famintos e andrajosos, quatro meses mais tarde! Uma epopeia que nada fica a dever à famosa «Retirada dos dez mil.».
No hay comentarios:
Publicar un comentario