A partir de meados do século XVII, a territorialidade impôs-se como a principal matriz do Império e teve a sua maior expressão no Brasil 49, mas foi também uma realidade em várias regiões africanas (verdadeiros embriões das colónias dos séculos XIX e XX) 50 e asiáticas, em especial na zona em torno de Goa e nas cidades de Damão e Diu 51, e ainda na ilha de Timor 52. Note-se, porém, que a emergência de fenómenos de interculturalidade não está necessariamente
associada à ocupação de territórios pelos Portugueses. Veja-se o caso do Japão, onde a Coroa portuguesa nunca dispôs sequer de uma feitoria e onde o poder militar luso nunca se fez sentir. No país do Sol Nascente bastou o sucesso do comércio e a receptividade de muitos Japoneses
aos missionários para que se gerasse um dos fenómenos mais intensos de interculturalidade. Os primeiros missionários desembarcaram aí em 1549 e, passado meio século, existiam no país cerca de 300 000 baptizados, incluindo mais de uma dezena de dáimios, os senhores da guerra, com domínios espalhados por todo o arquipélago 53. Nagasaki, a base do comércio e a sede do bispo, era uma cidade japonesa habitada quase só por cristãos. Era ela própria uma cidade híbrida, sinal evidente desse processo extraordinário de interculturação que se desenvolvia no Japão 54. O casario era todo de traça nipónica, incluindo as igrejas, mas a urbe desenvolvia-se encaixada entre montanhas, dispondo já de ladeiras, coisa inexistente nas demais cidades japonesas, que respeitavam um modelo chinês, bem diferente do dos Portugueses, nascidos nos castros hispânicos. As igrejas, além de serem edifícios tipicamente japoneses, tinham o seu interior organizado segundo modelos também locais, mas a decoração era de sabor ocidental, pois a pintura europeia era muito apreciada 55. Poder-se-ia apreciar um exemplo máximo desse
sincretismo, ao contemplar a catedral de Nagasaki, construída entre 1601 e 1603. Edifício de traça nipónica, tinha a seu lado uma torre com um relógio ao sabor ocidental, que foi inaugurada em 1605. Diga-se aliás que, nessa altura, não havia outro mecanismo igual no Japão.
http://www.oi.acidi.gov.pt/docs/Col_Portugal_Intercultural/1_Expansao_Portuguesa.pdf
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