Tanto idealizou Camões as peripécias que cumpriu na Índia que, 216 anos mais tarde, outro poeta achou de repetir o seu trajecto[28], como se andasse atrás de seu espectro[29]. Manuel Maria Barbosa du Bocage estava para completar 21 anos, quando também deu com o costado na ilha de Moçambique, depois de embarcar em Lisboa, a 14 de abril de 1786, na nau Nossa Senhora da Vida, Santo Antônio e Madalena, carregando a patente de guarda-marinha. Após uma demorada escala no Rio de Janeiro entre junho e julho[30], a nau, a caminho de Goa, aportou à ilha de Moçambique, no dia 2 de setembro.
Isso significa que Bocage contemplou o espectáculo que se dava todos os anos nos meses de agosto e setembro, quando chegavam os mujaos, cafres que moravam no interior da África em povoações a três ou quatro meses de viagem. Eles chegavam às praias, fortemente armados, depois de atravessar toda a Macuana, onde residiam os macuas, seus ferozes inimigos. Traziam para mais de dois mil escravos, igualmente mujaos, algum marfim, tabaco, zagaias e mantimentos, que negociavam com os portugueses[31].
Foi de apenas três dias a estada de Bocage na ilha de Moçambique[32]. É que a nau não se podia demorar no porto, como a maioria das embarcações que chegavam por aquela época, procedentes de Goa, Damão, Diu, Surrate, Cambaia, Baroche, Balagate, Cormandel, Jamboceira, Bounagar, Bengala, Malabar ou Macau.
Adelto Gonçalves, jornalista e escritor, é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Nova Fronteira, 2000, 538 págs.,
http://www.storm-magazine.com/arquivo/Artigos_Julho_Agosto/Artes/a_ago2001_1b.htm
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