O seu exército era constituído por “ (...) pretos e alguns mulatos entre os quais o lugar-
tenente do rei, um crioulo28da fazenda de Ruy Dias e cinco chefes africanos que queriam atacar os engenhos e a cidade” (Ibidem). Amador, libertou um elevado número de escravos dos engenhos de açúcar – com quem levou a cabo a rebelião – contando ainda com o apoio de escravos já fugidos, entre os quais chefes africanos, que terão entregue, na derrota, Amador aos portugueses. Das tropas europeias constavam também negros e mulatos, 29 que dispunham de armas de fogo. Amador, escravo auto-liberto, terá assaltado a igreja da Trindade, bebendo do cálice do padre, importante acto simbólico contra a colonização “messiânica”. A tradição santomense fixou Amador enquanto “rei dos angolares”, uma associação que se tornou popular no século XX, nomeadamente no período do luso-tropicalismo dos anos 60, com Tenreiro, autor luso-santomense que pela primeira vez associou a rebelião de 1595 aos angolares. Tenreiro, pretendeu provar a brandura do colonialismo português, negando a realidade de escravidão nas ilhas atlânticas, que denomina de “servidão” (cf. Seibert, 2005:3). Como refere Seibert: “escravos felizes não se levantam” (2005:3), tendo a rebelião de 1595 sido transformada num assalto de “bárbaros” angolares às plantações portuguesas. Como afirmam Seibert (2001; 2005) e Henriques (2000), não se pode deixar de verificar que a tradição de associar Amador aos angolares, reafirmada no pós-independência, limita a função majestática de Amador, designado nos documentos quinhentistas enquanto rei da ilha de São Tomé. Henriques diz mesmo que: “Esta amputação da dimensão do poder de amador, de Rei da ilha a Rei dos Angolares, consagrada na tradição santomense, constitui um dos fenómenos mais perturbadores da história de São Tomé e Príncipe” (2000:117). O que mais facilmente se compreende em Tenreiro, que escreve no período colonial, surge como perturbador no pós-independência, quando esta associação é reelaborada com grande ênfase, sendo hoje tradição oral e corrente (Cf. Seibert, 2005:4). Leia-se, por exemplo, Macedo: “ (...) controlando praticamente toda a ilha, os angolares decidem-se pelo assalto ao último reduto de resistência. Apoiados pelos escravos que haviam
libertado e conduzidos por Amador (…) tentam ocupar a cidade” (1996: 27).
http://loki.iscte.pt:8080/dspace/bitstream/10071/698/1/Joana+Areosa+Feio_de+%C3%89tnicos+a+%C3%89tnicos.pdf.
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