Pfsr. Dtr. Sergio Vieira - FICA: Epilogo del Libro,"De la Vadiagem al Deporte,Historia de la Capoeira".
No desenvolvimento de nossa tese buscamos analisar as transformações ocorridas com a Capoeira e investigar suas pertinências, enquanto patrimônio cultural, e percorremos um longo caminho. Fruto desta densa pesquisa foram obtidos os seguintes resultados:
1- A estruturação da Capoeira Angola, de Mestre Pastinha, se deu após a da Luta Regional, de Mestre Bimba, sendo ambas precedidas da Capoeira Desportiva, sua mais antiga forma organizacional, configurada pela Ginástica Nacional, ou Luta Nacional, surgida em 1890, por ocasião da formação do Estado Nacional, após a República, sendo metodizada e regrada por Annibal Burlamaqui, em 1928, que em si, foi uma tentativa de patrimonialização desta cultura imaterial.
2- No âmbito desportivo, podemos considerar que a Capoeira é um patrimônio cultural em seu sentido genérico, pois a codificação desportiva é transmitida de geração em geração, através de educação continuada, advinda da capacitação de técnicos, docentes, árbitros, ritimistas e capoeiristas, mas que também não pode ser tombada, pois é mutável através de Congressos, de acordo com os reflexos do cotidiano gerando assim a necessidade de ajustes. Esta educação continuada se estabelece através da implantação da tradição escrita, onde são codificados seus postulados, tradições, fundamentos, cânticos e rituais, uma vez que a tradição oral na Capoeira é praticamente inexistente ou nula em função das fragmentações culturais que a atingiram na atualidade.
3- No tocante a Capoeira Angola, observa-se que a mesma ainda mantém preservadas muitas de suas tradições originais. Atribui-se esta situação ao caráter sagrado que passou a dar ao conjunto estabelecido entre seus os rituais, tradições, fundamentos, músicas, cantos, ritmos, músicas, coro e linguagens corporais, de modo a se entender como sacrílego seu desconhecimento, no entanto a mesma perdeu muito de sua corporalidade e simbologias, em favor de um gestual mais acentuado.
4- No âmbito da Luta Regional, houve perda de significados na medida em que muitos, desconhecendo o legado de Mestre Bimba, passaram a reproduzir tal acervo de maneira aleatória, resultando em múltiplas ressignificações e grandes deslocamentos de seu centro de referência cultural.
5- Se o ser capoeira é vivenciar seus mitos e repassá-los às futuras gerações, e se estes mitos são transferidos por sua codificação filosófica através das canções de Capoeira, então podemos afirmar que temos um patrimônio cultural em perigo, na medida em que raríssimos são aqueles que conhecem os significados de tais canções.
6- Em relação à cultura material, representada pelos instrumentos musicais: berimbau, atabaque, pandeiro e agogô, podemos considerá-los como um patrimônio, tanto em sua forma de construção artesanal quanto em sua forma, no entanto em relação a seu manuseio e acordes já não se pode afirmar, posto que muitos já se perderam e outros foram alterados, ainda que existam iniciativas de resgates, sempre realizadas em progressões aritméticas em relação às geométricas. Esta patrimonialidade está gradativamente sendo alterada com a inserção de sintetizadores eletrônicos, criando novas tradições.
7- No tocante à cultura corporal da Capoeira, traduzida por seus movimentos e nomenclaturas, podemos considerar, do ponto de vista patrimonial que a mesma se encontra em perigo, pois raríssimos são aqueles que possuem condições de identificar seu acervo, carecendo assim todos, de educação continuada.
8- Podemos considerar que há uma relação patrimonial na sistematização político-administrativa da reprodução dos saberes e fazeres que caracterizam os fundamentos, tradições e rituais da Capoeira, a qual se torna múltipla na medida em que existem atualmente milhares de grupos, conseqüentemente milhares de identidades e patrimônios culturais distintos entre si, denominados pelo mesmo nome, porém, em seu conjunto, não temos como afirmar que a Capoeira em si, é um patrimônio cultural, em virtude que também não podemos afirmar que a mesma é uma, conforme se afirmado pelo senso comum.
9- Do ponto de vista formal-legal, a Capoeira não possui condições de ser tombada como um patrimônio cultural imaterial, nacional ou internacional, exatamente por não possuir justificativas plausíveis para tal tombamento, uma vez que, sendo idéias ou fantasias, são amplos em seus saberes e fazeres, implicando, conseqüentemente, em dificuldades de tombamentos de todos os patrimônios culturais imateriais.
10- Há uma certa contradição entre o tombamento de um patrimônio cultural e a democratização cultural, na medida em que o primeiro resulta numa condição estática, imutável e inerte às possibilidades de renovações advindas com o passar dos tempos, o que o torna aplicável às expressões culturais materiais, no entanto de extrema dificuldade às manifestações culturais imateriais, as quais necessitam refletir o cotidiano e estar abertas a todos os que a ele desejarem ter acesso.
11- Se a princípio havíamos nos preocupado com a fundamentação da Capoeira enquanto matriz cultural para uma Educação Física, aplicável no Ensino Fundamental, Médio e Superior, já não poderemos mais pensar genericamente, necessitando assim, optarmos por uma forma patrimonialista que quê condições de atender as questões desportivas, culturais e sobretudo educacionais interdisciplinares, o que implica necessariamente, em reestruturarmos completamente a Capoeira que é lecionada nas instituições de ensino, capacitando sobretudo seus docentes e atrelarmos os conteúdos programáticos por competências, saberes e habilidades.
12- Sendo a cultura dinâmica, ampla e constantemente renovável, a questão do futuro da Capoeira continuará a impor divergências, uma vez que existem aqueles que entendam que nesta dinâmica deve haver intervenções que sirvam para nortear seu desenvolvimento, havendo também quem entenda que tais transformações, que se dão no bojo da Capoeira na atualidade, fazem parte do próprio processo cultural da humanidade, posto que, ainda que venham a ser perdidos os seus postulados, tradições, rituais, fundamentos, saberes e fazeres originais, sempre serão adquiridos conseqüentemente outros do presente.
13- A Capoeira estabelece desafios para a Antropologia, em suas abordagens clássica e aplicada, assim como aos próprios governantes, posto que, se é dever constitucional do Estado “proteger e incentivar as manifestações artísticas, culturais e desportivas de criação nacional”, isto implicará em reproduzir os próprios significados da teia de significados de Max Weber, conseqüentemente, quaisquer ações de proteção à Capoeira, passarão, também, por um constante repensar a própria Antropologia, assim como as funções do Estado moderno, pois na atualidade não há como se preservar a Capoeira sem que nela sejam feitas intervenções culturais através de educação continuada a seus agentes de reprodução cultural, posto que se a concebermos como um patrimônio cultural também deveremos entender que este patrimônio se encontra sob risco de desaparecimento por múltipla ressignificação, caso não sejam tomas ações efetivas de preservação deste mesmo patrimônio, o qual incorporará as representações sociais de tantos quantos forem os locais onde a mesma estiver. Sendo assim, se há um jogo na Capoeira, este jogo se dá em relação aos seus agentes de reprodução, em preservá-la ou secularizá-la conforme suas próprias conveniências. Quanto ao Estado, impassível, isenta-se do mérito, atendendo, também segundo as conveniências da detenção do poder, aqueles que politicamente se alinham aos seus interesses. Não há, assim, uma discussão mais profunda entre todos os segmentos sobre a questão da mesma enquanto patrimônio cultural. Segue, deste modo, a Capoeira neste terceiro milênio, nas palavras do poeta Tony Vargas, “um peixe, um peixinho, solto nas ondas do mar”. Deste modo, o único caminho a ser seguido, no intuito de preservar a Capoeira e de criar um mecanismo mundial de reprodução de patrimônio, será efetivamente buscarmos o reconhecimento da Capoeira pelo Comitê Olímpico Internacional, o que efetivamente se busca por parte da Federação Internacional de Capoeira.
2- No âmbito desportivo, podemos considerar que a Capoeira é um patrimônio cultural em seu sentido genérico, pois a codificação desportiva é transmitida de geração em geração, através de educação continuada, advinda da capacitação de técnicos, docentes, árbitros, ritimistas e capoeiristas, mas que também não pode ser tombada, pois é mutável através de Congressos, de acordo com os reflexos do cotidiano gerando assim a necessidade de ajustes. Esta educação continuada se estabelece através da implantação da tradição escrita, onde são codificados seus postulados, tradições, fundamentos, cânticos e rituais, uma vez que a tradição oral na Capoeira é praticamente inexistente ou nula em função das fragmentações culturais que a atingiram na atualidade.
3- No tocante a Capoeira Angola, observa-se que a mesma ainda mantém preservadas muitas de suas tradições originais. Atribui-se esta situação ao caráter sagrado que passou a dar ao conjunto estabelecido entre seus os rituais, tradições, fundamentos, músicas, cantos, ritmos, músicas, coro e linguagens corporais, de modo a se entender como sacrílego seu desconhecimento, no entanto a mesma perdeu muito de sua corporalidade e simbologias, em favor de um gestual mais acentuado.
4- No âmbito da Luta Regional, houve perda de significados na medida em que muitos, desconhecendo o legado de Mestre Bimba, passaram a reproduzir tal acervo de maneira aleatória, resultando em múltiplas ressignificações e grandes deslocamentos de seu centro de referência cultural.
5- Se o ser capoeira é vivenciar seus mitos e repassá-los às futuras gerações, e se estes mitos são transferidos por sua codificação filosófica através das canções de Capoeira, então podemos afirmar que temos um patrimônio cultural em perigo, na medida em que raríssimos são aqueles que conhecem os significados de tais canções.
6- Em relação à cultura material, representada pelos instrumentos musicais: berimbau, atabaque, pandeiro e agogô, podemos considerá-los como um patrimônio, tanto em sua forma de construção artesanal quanto em sua forma, no entanto em relação a seu manuseio e acordes já não se pode afirmar, posto que muitos já se perderam e outros foram alterados, ainda que existam iniciativas de resgates, sempre realizadas em progressões aritméticas em relação às geométricas. Esta patrimonialidade está gradativamente sendo alterada com a inserção de sintetizadores eletrônicos, criando novas tradições.
7- No tocante à cultura corporal da Capoeira, traduzida por seus movimentos e nomenclaturas, podemos considerar, do ponto de vista patrimonial que a mesma se encontra em perigo, pois raríssimos são aqueles que possuem condições de identificar seu acervo, carecendo assim todos, de educação continuada.
8- Podemos considerar que há uma relação patrimonial na sistematização político-administrativa da reprodução dos saberes e fazeres que caracterizam os fundamentos, tradições e rituais da Capoeira, a qual se torna múltipla na medida em que existem atualmente milhares de grupos, conseqüentemente milhares de identidades e patrimônios culturais distintos entre si, denominados pelo mesmo nome, porém, em seu conjunto, não temos como afirmar que a Capoeira em si, é um patrimônio cultural, em virtude que também não podemos afirmar que a mesma é uma, conforme se afirmado pelo senso comum.
9- Do ponto de vista formal-legal, a Capoeira não possui condições de ser tombada como um patrimônio cultural imaterial, nacional ou internacional, exatamente por não possuir justificativas plausíveis para tal tombamento, uma vez que, sendo idéias ou fantasias, são amplos em seus saberes e fazeres, implicando, conseqüentemente, em dificuldades de tombamentos de todos os patrimônios culturais imateriais.
10- Há uma certa contradição entre o tombamento de um patrimônio cultural e a democratização cultural, na medida em que o primeiro resulta numa condição estática, imutável e inerte às possibilidades de renovações advindas com o passar dos tempos, o que o torna aplicável às expressões culturais materiais, no entanto de extrema dificuldade às manifestações culturais imateriais, as quais necessitam refletir o cotidiano e estar abertas a todos os que a ele desejarem ter acesso.
11- Se a princípio havíamos nos preocupado com a fundamentação da Capoeira enquanto matriz cultural para uma Educação Física, aplicável no Ensino Fundamental, Médio e Superior, já não poderemos mais pensar genericamente, necessitando assim, optarmos por uma forma patrimonialista que quê condições de atender as questões desportivas, culturais e sobretudo educacionais interdisciplinares, o que implica necessariamente, em reestruturarmos completamente a Capoeira que é lecionada nas instituições de ensino, capacitando sobretudo seus docentes e atrelarmos os conteúdos programáticos por competências, saberes e habilidades.
12- Sendo a cultura dinâmica, ampla e constantemente renovável, a questão do futuro da Capoeira continuará a impor divergências, uma vez que existem aqueles que entendam que nesta dinâmica deve haver intervenções que sirvam para nortear seu desenvolvimento, havendo também quem entenda que tais transformações, que se dão no bojo da Capoeira na atualidade, fazem parte do próprio processo cultural da humanidade, posto que, ainda que venham a ser perdidos os seus postulados, tradições, rituais, fundamentos, saberes e fazeres originais, sempre serão adquiridos conseqüentemente outros do presente.
13- A Capoeira estabelece desafios para a Antropologia, em suas abordagens clássica e aplicada, assim como aos próprios governantes, posto que, se é dever constitucional do Estado “proteger e incentivar as manifestações artísticas, culturais e desportivas de criação nacional”, isto implicará em reproduzir os próprios significados da teia de significados de Max Weber, conseqüentemente, quaisquer ações de proteção à Capoeira, passarão, também, por um constante repensar a própria Antropologia, assim como as funções do Estado moderno, pois na atualidade não há como se preservar a Capoeira sem que nela sejam feitas intervenções culturais através de educação continuada a seus agentes de reprodução cultural, posto que se a concebermos como um patrimônio cultural também deveremos entender que este patrimônio se encontra sob risco de desaparecimento por múltipla ressignificação, caso não sejam tomas ações efetivas de preservação deste mesmo patrimônio, o qual incorporará as representações sociais de tantos quantos forem os locais onde a mesma estiver. Sendo assim, se há um jogo na Capoeira, este jogo se dá em relação aos seus agentes de reprodução, em preservá-la ou secularizá-la conforme suas próprias conveniências. Quanto ao Estado, impassível, isenta-se do mérito, atendendo, também segundo as conveniências da detenção do poder, aqueles que politicamente se alinham aos seus interesses. Não há, assim, uma discussão mais profunda entre todos os segmentos sobre a questão da mesma enquanto patrimônio cultural. Segue, deste modo, a Capoeira neste terceiro milênio, nas palavras do poeta Tony Vargas, “um peixe, um peixinho, solto nas ondas do mar”. Deste modo, o único caminho a ser seguido, no intuito de preservar a Capoeira e de criar um mecanismo mundial de reprodução de patrimônio, será efetivamente buscarmos o reconhecimento da Capoeira pelo Comitê Olímpico Internacional, o que efetivamente se busca por parte da Federação Internacional de Capoeira.
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