A capoeira do Mercado Modelo de Salvador:
gestualidades performáticas de corpos em exibição
CDD. 20.ed. 796.82 Rodrigo da Costa FARIAS*
Silvana Vilodre GOELLNER*
*Escola de Educação
Física, Universidade
Federal do Rio Grande
do Sul.
................Apesar de a capoeira ser um dos atrativos do Mercado Modelo na atualidade, desde há muito tempo ela pode ser identificada com esse espaço público; ela também faz parte de sua história. Segundo Mestre Agogô6, um dos capoeiristas mais antigos ainda em atividade, suas primeiras experiências com a capoeira do Mercado datam da década de 60:
"Eu era menininho, 13 anos, comecei vendo a roda do Mercado uma vez por semana. Na frente do Mercado (do prédio antigo destruído pelo incêndio), se reuniam todo sábado. Naquela época, só tinha roda no sábado. E quem é que estava lá: Camafeu de Oxossi (conhecido compositor, percussionista e capoeirista), Dois de Ouro, Antonio Diabo, Nelinho Gereba, Vermelho Mijão, Pau de Rato. E eu lá vendendo cafezinho pra sobreviver. Comecei a olhar os movimentos, tentar fazer sozinho pra ver se aprende7."
............(MERCADO MODELO BAHÍA)Nas palavras de Augusto Januário dos Passos SILVA (2003):
"Para que pudesse sobreviver, a Capoeira teve que mudar sua lógica de funcionamento para
atender a sociedade capitalista que se encarregou de manter esse segmento cultural nos setores populares, dentro dos seus moldes num contexto onde os mesmos aparecem deslocados do seu verdadeiro significado e importância. A Capoeira deixou de ser um instrumento “de sobrevivência” para se transformar num instrumento “pela sobrevivência”, onde elementos são incorporados para atender a necessidade capitalista (p.82).
.........“Se tiver dez berimbaus e aparecerem dez tocadores, ponho todo mundo pra tocar. O negócio é impressionar o gringo” (Mestre Biriba11)
..........Nas palavras de Mestre Pandeiro12, ainda em atividade no Mercado Modelo: “Antigamente,a gente nem fazia acrobacia, era só pancadaria mesmo. Ninguém se preocupava em agradar gringo, era mais pra conseguir uma ‘ponta’13 e pra trocar pau14 ”.
.........Segundo o depoimento de Mestre Agogô7, antigamente, não havia a preocupação em agradar à assistência;
o jogo estava mais voltado para a disputa corporal, e as contribuições eram adquiridas na base da truculência. Referindo-se ao final da década de 70 e início de 80, ele diz: “naquele tempo, só ia bom, porque, se não fosse bom, não ia, era muita pancadaria, toda semana ia gente pro hospital”.
.................Segundo o Mestre Almir das AREIAS,
É nas rodas que o capoeirista, sentindo e seguindo o som excitante do berimbau, o ritmo de transe do atabaque, o repicado do pandeiro, o tilintar do agogô, a harmonia do canto e a vibração da platéia, sente-se mais do que nunca como alguém que existe, brincando, rindo, se melando e nadando no rio do seu próprio suor... Mas é também na roda, pelo massacre e opressão sofridos no cotidiano de cada um e quando induzidos pelo caminho do ódio e da revolta, que a violência também tem vez. E aí, o que era brilho transforma-se em opaco, o que era festa e alegria, em
guerra, o que era vida, em destruição, o que era amor toma o caminho do ódio, e o medo, a dor, a tristeza,tomam conta do ambiente (1983, p.94).
...............Nas palavras do praticante Caxixi17, “quando o assunto é dinheiro e capoeira, o Mercado Modelo é o pior lugar da Bahia”
http://www.usp.br/eef/rbefe/sumariov21n2/6_v21n2_p143_155.pdf
No hay comentarios:
Publicar un comentario