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martes, 31 de marzo de 2009

A CAPOEIRA COMO ESPORTE

A CAPOEIRA E O ESPORTE: anotações a partir da sociologia figuracional de
Norbert Elias LUCENA, Ricardo de F. – DFE/UFPB – ricoluce@hotmail.com


CAPOEIRA: DE COISA DE NEGROS AOS CUIDADOS DE BRANCOS
Se, no final do Século XIX, o praticante de capoeira era passível de punição pelo Código Penal, no decurso de algumas décadas, a situação mudou quase que radicalmente. Ainda no início do Século XX, ela começava a ser vista com outros olhos por um segmento de letrados que buscavam, no lastro do discurso de construção da nação, elaborar e valorizar práticas que apontavam para esse caminho. A capoeira foi logo vista como uma ação que caía muito bem, nesse sentido que se buscava, e poderia ser resgatada como uma luta nacional ou uma gymnastica brasileira que mereceria ver apagado seu passado de violência e de crimes. Portanto, assim como o Japão tinha o Jiu- Jítsu, a Inglaterra, o boxe, a França, o savate etc., nós teríamos a capoeira. Temos que considerar, no entanto, que a esportivização da capoeira é um processo que já dura algumas décadas. Com toda ação social, ela faz parte de uma trama reticular que se organiza tanto a partir dela quanto em direção a ela e, desde as primeiras décadas do Século XX, já se começa a sentir a mudança de sentido pretendida para essa prática. Se, no Século XIX, a ação dos partidos de capoeiras era motivo de classificá-los como vadios ou criminosos, parte dessa herança já estava associada ao próprio nome.
LUCENA, Ricardo de F. – DFE/UFPB – ricoluce@hotmail.com

Pereira da Costa, citado por Lyra Filho (1973), define-a assim:
Capoeira, luta ou espécie de exercício ou jogo atlético, praticado por indivíduos de baixa esfera, vadios, desordeiros, e no qual os lutadores esgrimem cacetes e facas e, servindo-se, ainda, em passos próprios, que obedecem a umas certas regras e preceitos dos pés e da cabeça, valentes, ágeis e ligeiros, vencem os adversários. (p. 307)
Na cidade de Recife, por exemplo, esse conceito atribuído à capoeira tinha certa razão de ser. Numa passagem de um trabalho de João Lyra Filho (1973), em que trata da capoeira em Recife, ele expressa o seguinte:
Os partidos de capoeira eram O Quarto e O Espanha. A origem dos partidos esteve na
rivalidade entre duas bandas de música, existentes no ano de 1856 – a do 4 o Batalhão de Artilharia e a de um Corpo da Guarda Nacional, mestrado por um espanhol chamado Pedro Garrido. Os partidários de O Quarto cantavam: “Viva o Quarto, morra Espanha, cabeça seca é quem apanha.” O apelídio constituía injúria para os rivais, seria o mesmo que os chamar de escravos (p.309).

Devido a isso, durante um longo período do Século XIX, a capoeira esteve mais associada ao crime do que à idéia de ginástica ou esporte. Certo mestre, citado por Miécio Tati, assevera que “a capoeiragem, se pudesse se desprover das intenções criminosas das maltas que a praticavam, talvez chegasse a merecer o rótulo de esporte, com patente do lugar. Não passava, infelizmente, de um exercício físico altamente proveitoso para os músculos – mas que tinha no punhal seu trágico complemento” (Lyra Filho, 1973. p. 310). Mas, já no início do Século XX, começamos a perceber um sentido de mudança. No Rio de Janeiro, no ano de 1907, surge um livreto apócrifo denominado “Guia do Capoeira ou Gymnástica Nacional”, que trazia a seguinte introdução:
Page 4 328
Atualmente, o capoeira é representado pelo desgraçado vagabundo, trouxa, cachaça,
gatuno, faquista ou navalhista, conhecido por alcunha que lhe garante a maior facilidade de entrada nos xadrezes policiais! Assim é que o maior insulto para inutilizar um jovem é chamá-lo capoeira. Foi, sem dúvida, nosso empenho levantar a Gymnastica Brasileira do abatimento em que jaz, nivelando-a como singularidade pátria, ao soco inglês, à savate francesa, à luta alemã, às corridas e jogos tão decantados em outros países. Nossa briosa mocidade hoje desconhece, pela maior parte, os trabalhos da arte antiga, e por isso nós resolvemos publicar o presente guia.
Observem que o texto mostra a situação do praticante da capoeira, mas tenta re- defini-la como uma ginástica brasileira, ao lado do já famoso soco inglês (ou boxe), o savate e as corridas e os esportes tão conhecidos em outros países e também no Brasil. Daí por diante, inúmeros trabalhos foram surgindo e, em 1928, também no Rio de Janeiro, surge a primeira codificação desportiva da capoeira, com o título de Gymnastica Nacional (capoeiragem) Methodizada e Regrada, escrita pelo mestre Zuma (Annibal Burlamaqui). O texto apresenta uma área de competição, uma roda de 8 metros de diâmetro, critérios de arbitragem, relação de golpes e um processo pedagógico de movimentos.
http://www.uel.br/grupo-estudo/processoscivilizadores/portugues/sitesanais/anais11/artigos/34%20-%20Lucena.pdf
otra fuente:http://www.revivendomusicas.com.br/curiosidades_01.asp?id=90
Frevo Recife:http://www.musicarecife.com/generos/genero/2

1907-GYMNASTICA BRASILEIRA

Dibujo:A Queixada:Dá-se um passo à frente do adversário e, (calculando sempre a distancia) suspendendo-se a perna com ligeireza, (direita ou esquerda) faz-se com que o pé (direito ou esquerdo) bata no queixo do adversário.1928-Méthode de Burlamaqui , (Zuma)

PARA ALÉM DAS METODOLOGIAS PRESCRITIVAS NA EDUCAÇÃO FÍSICA: A POSSIBILIDADE DA CAPOEIRA COMO COMPLEXO TEMÁTICO NO CURRÍCULO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL
JOSÉ LUIZ CIRQUEIRA FALCÃO*
..................Em 1907, aparece o opúsculo intitulado Guia do Capoeira ou Gymnastica Brazileira, cujo autor teria julgado prudente não revelar seu nome, pelos preconceitos existentes em relação à capoeiragem, mencionando apenas a sigla O.D.C., que significava Ofereço, Dedico e Consagro à distinta mocidade. Esse opúsculo defendia a sistematização da capoeira como um método nacional de ginástica. O opúsculo enaltecia os capoeiras de outrora pela riqueza de seus variados movimentos, pela prudência e por serem “amigos da ordem”. Alertava, ainda, que a“degeneração lenta e succesiva” começava a destruir “as bellezas desta gymnastica pátria pela ausência dos últimos notáveis mestres (sic)”(O.D.C., 1907, p. 2). Eis, aqui, mais um exemplo de deturpação e distorção do legado cultural da capoeira, com vistas a tratá-la pedagogicamente, a partir de metodologias prescritivas. Em 1928, o escritor Coelho Neto (1928) publicou o artigo “Nosso Jogo”, no qual apresenta uma proposta de inclusão da capoeira nas escolas civis e militares, chamando a atenção para a excelência desta como ginástica e estratégia de defesa individual. No mesmo ano, Aníbal Burlamaqui, um oficial da Marinha do Rio de Janeiro, publica o livro Ginástica nacional (capoeiragem): methodisada e regrada, no qual apresenta regras para o jogo esportivo da capoeira. Esta obra é apresentada com certo ufanismo à sociedade da época, como um “grito de brasilidade”, como possibilidade de libertação da influência dos “sports estrangeiros” e para destruir o “archaico e tolo preconceito de que a ‘GYMNASTICA BRASILEIRA’ – a capoeiragem – desdoura a quem a pratica” (sic!) (BURLAMAQUI, 1928, p. 9). Segundo o prefaciador da obra, Mario Santos, trata-se de um livro “modesto, prático e útil”, que apresenta regras esportivas para tornar um “gymnasta brasileiro” capaz de vencer os de outras lutas estrangeiras. Ao defender a capoeira, Burlamaqui o fazia sob o argumento de que ela era superior ao boxe, à luta romana e à luta japonesa, pois reunia elementos de todas elas e ainda estava associada à “inteligência e à vivacidade peculiares ao tropicalismo dos nossos sentimentos” (BURLAMAQUI, 1928, p. 5).