sábado, 1 de agosto de 2009

CAPOEIRA: A HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE UM PATRIMÔNIO CULTURAL DO BRASIL

CAPOEIRA: A HISTÓRIA E TRAJETÓRIA DE UM PATRIMÔNIO
CULTURAL DO BRASIL

Ricardo Martins Porto Lussac. Universidade Castelo Branco – PROCIMH -
LABESPORTE, Avenida Salvador Allende nº 6700, Recreio dos Bandeirantes, CEP
22780-160, Rio de Janeiro-RJ. E-mail: ricardolussac@yahoo.com.br


Desde o final do século XIX, alguns intelectuais da época, observando o viés positivo
da prática da capoeira sob um olhar patriótico e acompanhando o movimento inicial de
esportivização e institucionalização dos esportes e jogos pelo mundo, defendiam esta como uma ginástica e luta nacional, de origem brasileira, que deveria ser incentivada como prática regrada e aproveitada nos meios militares e na formação física dos jovens. Embora se possam encontrar referências no início do século XX que abordavam a capoeira de diferentes formas
(CAMPOS, 1906; BARRETO, 1908), pode-se afirmar que o marco da iniciativa mais
expressiva em promover a luta brasileira como esporte, defesa pessoal e ginástica foi a
publicação da obra O Guia do Capoeira ou Ginástica Brasileira (OFEREÇO, DEDICO E CONSAGRO, 1907). Esta publicação foi seguida pela de Zuma, Aníbal Burlamaqui (1928) - Ginástica Nacional (Capoeiragem) – metodizada e regrada - considerada um aperfeiçoamento e extensão da primeira. A publicação da obra de Zuma reacendeu mais vivamente um movimento da prática da capoeira como esporte-luta, sendo provavelmente esta uma influência para alguns personagens da história da capoeira começarem uma empreitada
por mudanças na prática da arte-luta. No Rio de Janeiro podemos constatar principalmente o
trabalho de Sinhozinho, que treinou jovens de Ipanema, como Tom Jobim, Rudolf Hermanny,
Luiz Aguiar – o Cirandinha, Paulo Amaral, Neyder Alves – o Copacabana, os irmãos Pettezzoni, entre muitos outros. A publicação da obra de Zuma, o trabalho de Sinhozinho e suas respectivas repercussões teriam influenciado Mestre Bimba a criar a sua Luta Regional Baiana na Bahia, mais tarde conhecida como Capoeira Regional (LOPES, 2002; LUSSAC, 2004). O próprio nome Regional teria sido dado em oposição ao Nacional, utilizado para a denominação da prática esportiva da capoeira no Rio de Janeiro naquele período, no intuito de se desvencilhar da carga pejorativa que o termo capoeira ainda carregava, e assim obter uma melhor aceitação. As mudanças advindas da criação da Luta Regional Baiana na Bahia por Mestre Bimba geraram um novo movimento de capoeiristas naquela região, onde iriam denominar a capoeira praticada por eles como
Capoeira Angola (LUSSAC, 2004), influenciados por pesquisadores da época que, por sua vez, pautaram seus estudos em autores que afirmavam um exclusivismo banto na formação étnica brasileira (ARAÚJO; JAQUEIRA, 2004). Este movimento seria uma oposição às mudanças na capoeira realizadas por Bimba, somadas às reivindicações socioculturais e identitárias de seus praticantes. Tanto a Capoeira Regional como a Capoeira Angola mais tarde viriam a compor grande parte das matrizes irradiadoras da capoeira pelo Brasil e pelo mundo.
http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/view/5815/3992
NOTA: 1996 ANGELO, Decânio Filho. A herança de Mestre Bimba: filosofia e lógica africanas da capoeira. Salvador: [s.n.]. Edição do autor. Apresentação de Jorge Amado e Esdras Magalhães dos Santos. Ângelo Decânio foi aluno e médico de Mestre Bimba, e conviveu com Cisnando Lima ("foi o primeiro aluno branco da classe social dominante em Salvador; Cisnando logo induziu o Mestre Bimba a enriquecer o potencial bélico da luta negra...". Pág. 112). Com profunda admiração, mas com singular realismo, Decano exalta a figura de Bimba. Com autoridade, às folhas tantas, chama atenção para graves distorções que estão ocorrendo, atualmente, com a Capoeira Regional. Leitura recomendada.

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